DE VOLTA À TERRA
Enquanto estamos no mundo dos Espíritos, após a última
passagem reencarnatória pela Terra, avaliamos nossos sucessos
e fracassos, nossos acertos e desacertos. Esse balanço
existencial muitas vezes é feito com o auxílio de Espíritos mais
experientes, cuja sabedoria alcança aspectos ainda inacessíveis
ao nosso entendimento. Assumimos ou reassumimos nossas
responsabilidades na Espiritualidade e aguardamos novas
oportunidades de retorno à esfera mais densa da matéria.
É bem verdade que nem todos, enquanto desencarnados, vivem
em colônias ou cidades espirituais de grande elevação. Muitos, a
maioria talvez, ainda vive em mundos espirituais não
propriamente inferiores, mas de pouca evolução. Espíritos
comuns, sem grandes méritos e sem grandes culpas. Nesses
ambientes espirituais, ao contrário do que ainda se pensa, não se
vive uma vida ociosa ou contemplativa. Existem deveres a
serem cumpridos, tarefas a serem realizadas em benefício
próprio ou de outrem.
Nas chamadas zonas purgatoriais ou inferiores, os Espíritos
estagiam por maior ou menor lapso de tempo. O suficiente para
repensarem a própria existência, cansarem-se da vida sem
objetivo, desfazerem-se dos resíduos materiais levados no
perispírito (ou corpo espiritual ou ainda, corpo astral, conforme
algumas filosofias), mudarem de hábitos, conceitos e,
principalmente, preconceitos.
Após esse intervalo entre reencarnações, que pode durar de
alguns anos a décadas e mesmo alguns séculos, o ser sente-se
necessitado de prosseguir em sua marcha evolutiva. Os mais
evoluídos definirão seus próprios rumos com mais liberdade.
Suas existências incluem tarefas de interesse coletivo de maior
ou menor porte, de acordo com suas potencialidades, ao lado
das necessidades pessoais que jamais ficam esquecidas,
considerando-se que um estágio na Terra é oportunidade
preciosa demais para ser desperdiçada. As criaturas com uma
evolução mediana precisarão recorrer aos amigos mais vividos
para a programação de sua jornada terrena. Isso para otimizar
sua reencarnação e minimizar as margens de erro. Ainda assim
sabem que os riscos de insucesso serão apreciáveis, pois são
pessoas com força de vontade ainda algo indisciplinada e
precisarão do amparo dos Espíritos amigos, encarnados ou não.
Quanto àqueles com escasso progresso, serão muitas vezes
constrangidos ao retorno à vida corporal. Muitos deles acabam
por aceitar a reencarnação devido ao esquecimento do passado
produzido pelo mergulho na carne. Suas consciências culpadas
encontrarão algum alívio e com isso ressurge a esperança e a
oportunidade de reparar os erros anteriores.
Enquanto no mundo espiritual usufruímos de capacidades de
percepção mais amplas que ficarão bastante limitadas com o
processo reencarnatório, ainda assim o Espírito não se desliga
totalmente do mundo espiritual. Durante o sono do corpo reverá
os amigos que o acompanham para uma troca de idéias e
aconselhamento. Terá ainda, sem dúvida, amigos reencarnados
no seu convívio com quem poderá contar nos momentos
difíceis. E não ficará por aí a misericórdia divina. A intuição nos
momentos oportunos e o socorro da prece estarão sempre ao
alcance do ser reencarnado. Há uma grande diferença no
comportamento do Espírito enquanto reencarnado ou
desencarnado. No mundo espiritual temos a certeza de sermos
“Espíritos”, seres imortais, e isso altera nossa compreensão da
vida. Durante o estágio na Terra, ficamos envolvidos com os
apelos materiais, o corpo carnal amortece nossas percepções, o
esquecimento do passado gera incertezas e, normalmente, os
impulsos e sentimentos inferiores prevalecem devido à condição
evolutiva média do homem terreno, ainda pouco distanciado de
sua passagem pelo reino animal.
Reencarnar é, de certa forma, lançar-se ao mar da existência
sem grandes certezas e muitas dúvidas. É desatracar o navio da
vida apenas com os equipamentos conseguidos pelo esforço
pessoal e alguma ajuda externa, daí a angústia que todo Espírito
sente ao aproximar-se a época da viagem pela Terra. Mas viver
é correr riscos e o progresso intelectual e moral se fará a partir
de nossas reações durante o percurso.
Mas, como é reencarnar? Alguns livros e depoimentos de
Espíritos nos dão notícias acerca do processo que pode ser
sintetizado da seguinte maneira. Após definir as diretrizes
principais de sua futura vida na Terra; feitos os arranjos
necessários para garantir o melhor resultado possível e
escolhidos aqueles que irão recebê-lo como filho ou filha,
geralmente dentre as pessoas de seu relacionamento, aguarda-se
a ocasião oportuna, quando o Espírito sofrerá uma gradual
perda de consciência sob os efeitos da fluidoterapia espiritual e
será ligado magneticamente aos seus pais terrenos, algum tempo
depois da concepção decorrente do ato sexual. Como se vê, o
processo reencarnatório se inicia muitos meses e mesmo anos
antes da concepção. Dependendo das necessidades e
possibilidades do Espírito os cuidados serão maiores ou
menores. Quanto mais evoluído mais ele próprio participa do
processo, quanto menos evoluído mais se entrega aos
automatismos reencarnatórios. Um outro detalhe importante é
que quanto menos evoluído, menor o intervalo entre uma
reencarnação e outra. O ser mais adiantado moral e
intelectualmente reencarnará a intervalos maiores porque soube
aproveitar mais as lições anteriores e a Terra pouco terá a lhe
acrescentar por algum tempo.
O corpo espiritual do reencarnante é então, digamos,
miniaturizado e colocado no útero de sua futura mãe,
monitorando a partir daí a multiplicação celular em função de
suas necessidades evolutivas. Durante a gestação, enquanto seu
corpo se forma e se prepara para viver no mundo de matéria
mais densa, o Espírito não fica de todo destituído de
percepções. Pelo contrário, estará mais sensível às emoções de
seus pais, percebendo, inclusive, se é bem-vindo ou não. Tais
sentimentos já passarão a constituir sua personalidade terrena,
seu caráter, determinando até mesmo neuroses que se
manifestarão futuramente. Como se vê, tudo isso demanda
cuidados por parte dos Espíritos que cuidam dos processos
reencarnatórios e necessita da contrapartida dos pais terrenos.
A reencarnação é uma bênção ainda não avaliada de acordo com
sua importância. Muitos agem como se a vida fosse um passeio
pela Terra, uma viagem de turismo. Na realidade, a Terra é o
ponto de encontro de Espíritos de categorias espirituais
distintas. As influências recíprocas possibilitarão ao ser mais
evoluído consolidar virtudes e adquirir outras; ao menos
evoluído aprender com aqueles. Lembremo-nos que no Mundo
Espiritual os Espíritos se agrupam por laços de afinidade,
formando grandes famílias espirituais que se organizam em
cidades e colônias. Pode ser que tenhamos ao nosso lado,
enquanto encarnados, seres que amamos e com quem não
partilhamos ainda o mesmo ambiente extrafísico, daí a
importância de aproveitarmos bem as oportunidades que nos
são oferecidas para que, um dia, possamos estar com eles na
Terra e na Espiritualidade Maior.
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