O NAMORO ENSAIANDO O FUTURO
Uma das experiências mais gratificantes da adolescência é o
namoro. Uma forma de compartilhar emoções e ideais, de
dividir angústias e esperanças. É um ensaio para a vida afetiva
mais plena, ou pelo menos deveria ser, pois o jovem não
distingue ainda muito bem a diferença entre gostar e amar. Em
alguns casos envolve-se sexualmente com a namorada ou
namorado, não conseguindo relacionar muito bem, por exemplo,
sexo com gravidez. Seja por influência dos meios de
comunicação, seja por pura desinformação ou mesmo
irresponsabilidade, tais experiências costumam ser mais
traumatizantes do que prazerosas, comprometendo muitas vezes
toda a existência terrena.
Há uma grande diferença entre gostar e amar. Gostamos de
nadar, de andar de bicicleta e de ir ao cinema, sem que nos
dediquemos integralmente a isso. São atividades esporádicas
que nos trazem satisfação íntima. Gostar não é o nome de uma
emoção. Equivale a desfrutar, querer, preferir e, algumas vezes,
escolher. Amar relaciona-se a emoções. Implica atitudes de
solicitude, de benevolência e atenção pelo ser amado. Existem
casos de amor sem esperança de reciprocidade e que nem por
isso são menos intensos e verdadeiros. Há o amor que floresce e
se dedica integralmente ao ser amado no silêncio do mundo
íntimo. Como foi dito antes, o amor, diferentemente da paixão,
é pleno em si mesmo. A isso se refere Robert Brown em seu
livro “Analisando o amor”.
Será que existe uma maneira de se saber quando se está
enamorado de alguém? Sim, normalmente se sente um grande
desejo de ser inseparável da pessoa amada. Um grande interesse
em unir os dois cotidianos e de dividir momentos de alegria e
tristeza. Pode acontecer, entretanto, que uma pessoa goste de
alguns aspectos de outra e que por isso não pretenda estar com
ela constantemente.
Para o adolescente, o namoro é a oportunidade de ter as
primeiras experiências no campo da sexualidade. O abraçar,
beijar e acariciar são sensações que lhe trazem prazer, mesmo
que o afeto não seja ainda preponderante. Alguns estudiosos do
comportamento humano chamam nossa atenção para o fato de
que entre os catorze e dezessete, dezoito anos, há muito mais
impulso sexual que afeto. É uma fase de instinto sexual, sem
direção determinada. O rapaz e a moça sentem atração física por
colegas de classe, por exemplo, indistintamente. Passados esses
anos um pouco turbulentos, surge o erotismo. Um período em
que o desejo sexual passa a ser dirigido não mais a qualquer um
do sexo oposto, mas àqueles com determinadas características.
O desejo sexual começa a sofrer a influência do afeto. A moça
passa a desejar aquele rapaz em especial ou somente aqueles
que tenham determinadas qualidades. O rapaz por sua vez, não
sente atração como antes por qualquer moça, mas por aquela
que lhe corresponda a determinados anseios.
Dentro dessa visão, que se coloca em paralelo com a ótica
espírita, o afeto vai se tornando cada vez mais seletivo, até
fixar-se numa determinada pessoa que, normalmente, será sua
companhia por aquela jornada terrena, quando não seja um
Espírito extremamente afim que se reencontra para a
continuidade da vida. Realmente, entregue às circunstâncias
favoráveis a uma existência saudável, entenda-se Providência
Divina, o Espírito reencarnado terá sempre pela frente as
pessoas que deverão compartilhar de suas experiências, como se
a vida “conspirasse” positivamente em seu favor. Nesse
contexto, não se deve tratar as primeiras experiências afetivas
como um passatempo, pois ninguém lesa ninguém no campo
íntimo sem criar comprometimentos perante as leis divinas.
Portanto, o namoro é coisa séria.
Um modismo comum, reflexo da época em que vivemos, é o
“ficar”, ou seja, passar um fim-de-semana com ele ou com ela
sem maiores compromissos e com direito a tudo ou quase tudo.
Uma espécie de pré-namoro. Numa época da humanidade em
que tudo é visto como mercadoria, também os sentimentos
entraram na lista dos bens de consumo. O próprio amor tornouse
um bem de consumo não-durável nessa visão mercantilista da
vida. Se isso terá algum resultado positivo temos nossas
dúvidas. Parece mais um sintoma de insegurança afetiva
generalizada, misturada com o desejo de não contrair
compromissos ou responsabilidades.
A pressa de muitos jovens em começar sua vida afetiva e sexual
mais cedo tem conduzido a várias tragédias pessoais. O
casamento precocemente contraído, sem a devida preparação no
campo emocional e material, a gravidez inesperada e por isso
indesejada gerando infanticídios. Tudo isso aliado aos
transtornos familiares gerados por essas situações contribuem
para a desestruturação de casamentos e famílias, além de
interferirem de forma marcante no programa reencarnatório dos
envolvidos. Realmente existem reencarnações não programadas.
Espíritos que são atraídos pelas energias sexuais postas em
movimento e que então submetem-se passivamente aos
automatismos reencarnatórios. Também muitos casamentos
acidentais acabam por acontecer como decorrência de ligações
afetivas prematuras e inconseqüentes. Tais acontecimentos
interferirão certamente na vida dos implicados no caso,
alterando-lhes as tarefas programadas anteriormente no Plano
Espiritual, mas que serão aproveitadas da melhor maneira
possível, pois tudo pode ser útil para a evolução do Espírito.
Até mesmo alterações de última hora efetuadas no programa
existencial podem ser bem aproveitadas se o ser reencarnado se
conduzir bem, no uso sensato de seu livre arbítrio.
Nas primeiras experiências amorosas o jovem pode
experimentar também as primeiras decepções, as primeiras
frustrações. Acabará por descobrir que o mundo não foi feito
sob medida e que cabe a ele adaptar-se à realidade. Nessa fase,
as frustrações amorosas doem profundamente, deixam o que
poderíamos chamar, repetindo Jorge Andréa dos Santos,
“feridas psíquicas” que custam a fechar, mas com o tempo as
coisas se normalizam. O tempo tem sido um dos mais eficazes
medicamentos para quase todos os tipos de dores morais.
Considerando o fato de que o adolescente, como a criança, é um
Espírito reencarnado, vê-se que os desatinos cometidos durante
a juventude não encontrarão respaldo na Espiritualidade, pois
cada um se comportará sempre de acordo com o somatório de
seu patrimônio espiritual adquirido até o presente. A sociedade,
com seus vícios socialmente aceitáveis como o fumo e o álcool,
normalmente contribui para empurrar o jovem para caminhos
equivocados. Cabe a cada um resistir, até mesmo para ajudar a
criar uma nova sociedade, isenta de tais costumes.
Retomando nosso fio de raciocínio referente ao namoro
podemos dizer, para concluir o presente capítulo, que ele pode
ser uma fonte de alegrias enquanto se aguarda a maturidade e
suas responsabilidades. Deverá merecer por parte do jovem uma
reflexão mais séria, pois também essas experiências serão
acrescentadas ao seu acervo espiritual e sempre será melhor que
sejam experiências felizes. Não vale a pena arriscar todo o
processo existencial na Terra, jogar numa única experiência
todo o seu futuro, em troca de um ou outro prazer passageiro.
Como veremos em capítulo posterior, devemos aprender a
disciplinar nossa vontade e controlar nossos instintos o quanto
antes. Isso é possível e é do que trataremos oportunamente.
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