domingo, 7 de novembro de 2010

Sob os olhos da clarividente (6)




O DESAPARECIDO

- Dona Neiva, me ajude, por favor! Não agüento mais esta vida!...
A moça, aparentando ter uns vinte anos de idade, tinha o bonito semblante sulcado pelas lágrimas. A Clarividente anotou seu nome e idade, e ela começou a contar sua história:

- Dona Neiva, casei-me há três meses com o George. Minha vida, antes desse casamento, era muito sofrida. Aos quinze anos fui violentada por um desconhecido, e com isso sofri horrores. Só comecei mesmo a viver depois que encontrei George. Gostamos um do outro assim que nos vimos, mas tivemos que lutar muito para nos unir. George é filho de argentinos, e seus pais não gostam de mim. Nunca aceitaram esse casamento. Tanto que, depois de nosso casamento, eles se mudaram para a Argentina. Mesmo assim, nos deixaram o apartamento onde moramos. George formou-se em Mineralogia, e adora sua profissão. Seu sonho dourado era se formar e fazer um curso especializado no Rio de Janeiro. Eu trabalho num instituto do Governo, e nossa vida de casados começou muito bem. Logo que terminamos a lua de mel, George foi ao Rio, para fazer o curso. Infelizmente não pude acompanhá-lo, mas, como o período era curto, não me importei muito. Dois meses depois, George voltou, mas me encontrou meio adoentada. Sempre tive complicações ovarianas, e George, assim que chegou, providenciou uma consulta no hospital. O clínico geral que me examinou pediu uns exames e mandou que voltássemos daí a alguns dias. Na data marcada, voltamos e fomos atendidos pelo Dr. Celso. Entramos no pequeno consultório e ele pediu minha ficha à enfermeira. O Dr. Celso olhou a ficha e viu os resultados dos exames. Dirigindo-se a nós, nos parabenizou por eu estar grávida, já no quinto mês de gestação! George deu um gemido e cobriu o rosto com as mãos, e eu fiquei tão chocada que não consegui dizer nada. O médico ficou nos olhando, sem compreender, e George, subitamente, saiu do consultório. Voltei-me para o médico e lhe disse que deveria ter havido algum engano, pois estava casada há somente três meses! O médico ficou meio embaraçado e tornou a olhar a ficha. Pensou um pouco, e rabiscou um memorando, encaminhando-me para um ginecologista. Só então compenetrei-me do fato de que o Dr. Celso era um clínico geral e não um ginecologista. 

Cheia de presságios, saí em busca de George, mas não o encontrei no corredor. Busquei por todo o hospital e, não o encontrando, peguei um taxi e fui para casa. Lá chegando, vi nosso quarto todo desarrumado, e a empregada me deu o recado de que George tinha viajado. Desde então, dona Neiva, não tive mais notícias dele. Isso já faz quase duas semanas e não entendo o que está acontecendo. Tenho certeza de que tudo vai se esclarecer!

A moça desandou a chorar. Neiva prometeu fazer tudo que estivesse ao seu alcance para trazer o marido dela de volta, e lhe pediu que voltasse na semana seguinte. Continuou atendendo a outros casos e, no fim do dia, lembrou-se da moça.

Mãe Etelvina se aproximou, e contou a história dela:

Há apenas alguns anos, numa encarnação anterior, a moça se chamava Júlia e o actual George se chamava Marcos, e também eram casados.

Depois de certo tempo de casados, Marcos arranjou uma amante, e Júlia acabou por descobrir. Revoltada com o fato, procurou a companhia de outro homem, de quem também se tornou amante.

Marcos, porém, caiu em si, e decidiu romper aquela situação embaraçosa. Deixou a amante e passou a se dedicar inteiramente a Júlia, de quem não suspeitava.

Diante da atitude de Marcos, Júlia decidiu seguir o mesmo caminho, e tratou de romper com o amante. Não foi, porém, tão feliz como Marcos, pois Célio, seu amante, estava apaixonado por ela, e não se conformava com a separação.

Numa certa manhã, encontraram-se na rua, e Célio, em altas vozes, reclamou a companhia de Júlia. Justamente, nesse momento, Marcos cruzou com eles, e a situação ficou mais embaraçosa. Júlia saiu-se como pôde daquela dificuldade, conseguindo que Marcos não ficasse sabendo exactamente o que estava acontecendo. Desconfiado, Marcos fingiu sair da cidade, mas ficou vigiando Júlia.

Depois de algum tempo, cansou-se daquela vigília, e, compadecido de Júlia, voltou para o lar, convencido de sua inocência. Logo em seguida, porém, sofreu um ataque de febre perniciosa, e foi internado em um hospital, onde ficou, durante dois meses, em tratamento.

Durante todo esse período, ele permaneceu semiconsciente.
Finalmente, recuperada sua saúde e esquecido da quase tragédia anterior à doença, voltou para casa, ansioso por retomar sua vida de casado e amando Júlia.

Ainda enfraquecido, estranhando a ausência da esposa, foi para casa, onde uma surpresa desagradável o esperava: Júlia havia fugido com o amante Célio! Marcos não resistiu ao choque e acabou desencarnando, desamparado.
Júlia, que havia fugido diante das ameaças do amante, arrependida pelo mal que fizera a Marcos, viveu seus dias cheios de tristeza e acabou desencarnado pouco tempo depois.

Ambos haviam se endividado: Júlia, porque provocara o desencarne prematuro de Marcos, e este, porque não resistira à sedução da primeira amante, cujo nome era Marta, e conduzira Júlia ao abismo. A culpa de Marcos era bem menor que a de Júlia, que, com seu comportamento, pusera em perigo, inclusive, a vida de Célio, pois, em dado momento, Marcos pensara em matar ambos.
No astral, Marcos, evoluído e já considerado um trabalhador espiritual, atrasava-se devido ao plano onde estava Júlia, menos evoluída, por ser seu companheiro espiritual, almas afins.

Ambos pediram nova oportunidade encarnatória, e, assim, vieram parar em Brasília, onde aconteceu o fato.

Nada podemos fazer por eles. Júlia e Marcos, nas personalidades de Maria e George, terão que curtir sua dor, até o refazimento total de seus espíritos. 

Maria, mais atrasada, com mais culpas do passado, irá sofrer mais. George está com os pais, na Argentina, e praticamente já se esqueceu de Maria, pois se integrou na vida junto aos pais.

Mãe Etelvina encerrou sua narrativa.

Maria de Justo, 19 anos, compareceu, uma semana depois, ansiosa pela resposta de Neiva. O diálogo foi cheio de interrupções e frases vagas. Poderia a Clarividente dizer-lhe a verdade cármica? Iria isso trazer alguma luz àquele espírito sofrido e conturbado?

- Olhe, – disse ela a Maria – ainda não consegui muita coisa. Estou pedindo a Deus pelo seu marido, para que ele volte para o lar. Aconselho-a a trabalhar espiritualmente. A senhora tem muita mediunidade, e isso pode ajudar no seu caso.

Maria saiu, comentando com uma amiga:

- Não sei não, tenho a impressão de que dona Neiva não me disse tudo que sabia. Você acha que George volta?

-Não sei!... – respondeu a amiga.

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