domingo, 21 de novembro de 2010

ADOLESCENTE, MAS DE PASSAGEM (6)




EM BUSCA DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO


Num período tão complexo como a adolescência é comum que
o jovem comece a se afastar cada vez mais dos parentes e que,
em contrapartida, se ligue mais e mais a um grupo de amigos.
Isso acontece porque em casa normalmente se critica e se é
criticado. Como foi dito antes, se confunde o desejo de ser
independente com o “ser do contra”. Como os pais não se
habituaram a ser contrariados o ambiente vai se tornando tenso
e conflitante.

É pena que essa transição seja tão traumática tanto para os
adolescentes quanto para os pais. Todo aquele entendimento,
aquela convivência terna como que se evapora. O jovem,
sentindo-se incompreendido, passa a querer ficar cada vez mais
tempo fora de casa, sem vontade de dar a menor satisfação a
seus pais como se não precisasse mais deles ou pior, como se
eles fossem um obstáculo a ser vencido a qualquer preço.

Quando há um bom nível de diálogo entre pais e filhos a
situação pode ser contornada mais facilmente pois os dois lados
envolvidos - pais e filhos - percebem que algo novo está
acontecendo e que terão que rever as bases de seu
relacionamento. Os pais aceitando que seus filhos adolescentes
já não são mais crianças e que querem e precisam aprender a
voar com as próprias asas. Por sua vez, os filhos devem
entender que também para seus pais a situação é nova, e que um
novo tipo de parto está acontecendo, desta vez de natureza
emocional.

O adolescente deve procurar compreender seus pais nesses
momentos, tanto quanto quer ser compreendido por eles. Deve
entender que para eles, ele era uma criança até há poucas
semanas. Deve procurar compreender também que agir por
conta própria, sem levar em consideração a opinião dos pais, é
ser egoísta e intolerante com aqueles que, bem ou mal, lhe
deram o possível até aquela data. Seguir seus próprios caminhos
é um direito inquestionável, mas esse processo de ruptura pode
ser amenizado se houver boa vontade de parte a parte.

O resultado desse desarranjo todo é a busca da companhia de
seu grupo, onde é aceito com suas virtudes e defeitos, com suas
peculiaridades, onde os interesses são os mesmos. No grupo, o
jovem compensa em boa parte sua insegurança pessoal diante de
tudo que lhe acontece; sente-se mais seguro em suas idéias e
encontra espaço até para eventuais esquisitices próprias da
idade. É curioso notar que o estado de confusão interior
manifesta-se no jeito de se vestir, de falar e de comportar-se em
público. Se for um rapaz, pode ser que numa semana deixe a
barba crescer, vista-se descuidadamente, ande de sandálias etc.

Na outra, é visto de bigode, vestido com mais cuidado e
comportando-se até com um certo formalismo. Na semana
seguinte, estará de óculos escuros, cabelos compridos e de
bermuda. E vai por aí.

Se for uma moça, a coisa não ocorre de maneira muito
diferente. Num dia se apresenta toda enfeitada e pintada. No
outro, vestida simplesmente, sem pintura e com os cabelos de
um modo diferente. Em outro dia de um outro modo e assim
por diante. O que tudo isso significa? Com certeza o jovem não
está em busca da simples contestação; está, na verdade, em
busca de si mesmo. Quer e precisa descobrir qual é sua
identidade e isso se reflete no seu aspecto exterior. Nem sempre
é simples extravagância, mas o mais puro reflexo do estado de
confusão íntima em que vive o adolescente e que passará em
pouco tempo, principalmente se for acessível a alguma ajuda de
pessoas mais experientes ou dos próprios pais.

O problema da busca de segurança é complexo porque se o
jovem se sente mais independente e seguro de si ao romper com
os laços familiares, nem sempre percebe que está simplesmente
trocando um vínculo de dependência por outro. Na verdade,
troca a dependência da família pela dependência do grupo, o
que algumas vezes pode representar um mau negócio. Se o
adolescente acredita que a família já não tem nada de bom a lhe
oferecer e une-se a um grupo de jovens ainda inexperientes
como ele, seria o mesmo que trocar nada por coisa nenhuma.

Quando o adolescente além de enfrentar as mutações próprias
da idade conscientiza-se de outros fatores e sua importância
para a vida, tais como os problemas decorrentes da riqueza de
poucos e da miséria da maioria, em que talvez ele se encontre; a
saúde de uns e as doenças e deficiências físicas de outros, em
que ele próprio talvez se inclua. Nesses casos, mais importante
se torna a correta compreensão da vida e aqui voltamos a
ressaltar a transitoriedade da adolescência e as responsabilidades
posteriores, com a chegada da maturidade. A carência material e
afetiva tem levado muitos jovens à delinqüência e à
marginalidade. Problemas congênitos, como deficiências físicas
poderão transtornar seu mundo íntimo tornando-o uma criatura
revoltada e amargurada. O certo é que cada um se encontrará
diante dos fatores existenciais necessários à sua evolução e
reeducação espiritual, quando é o caso.

Diante das cruas realidades da vida, em que os momentos com a
“turma” ou com o namorado ou namorada são simples tréguas,
nada melhor que o suporte da religião bem compreendida e,
principalmente, bem vivida. Não nos referimos aqui a nenhuma
religião em especial, mas à religiosidade inerente a toda criatura
humana e que deve ser bem canalizada em benefício próprio e
da coletividade em que se vive, a começar pelo ambiente
familiar. Essa questão será tratada com mais detalhes em
capítulo próprio que veremos depois.

Dentre as necessidades básicas do ser humano encontra-se a
necessidade de segurança e proteção. Essas necessidades são,
inicialmente, supridas pela família, principalmente em se
tratando de necessidades materiais, que a criança não pode
prover por si mesma. Aliás, a espécie humana é aquela em que
as capacidades de relativa auto-suficiência mais demoram por
desenvolver-se. Naturalmente, devido à importância do período
da infância para o Espírito reencarnado. A insegurança
enquanto ser é muito aumentada durante a adolescência pelos
fatores já mencionados e pela retomada dos impulsos e
tendências trazidas de encarnações passadas. Nesse período o
Espírito reassume sua verdadeira natureza, deixando à mostra
todas as suas boas e más inclinações.

Quando as influências exercidas pelos pais terrenos foram
suficientes para suplantar aquelas trazidas pelo Espírito, elas
prevalecerão diante das novas oportunidades de decisão. Se essa
influência foi fraca, apenas parcial ou ineficaz, veremos o
Espírito retomar sua antiga conduta. Nesse momento se
costuma dizer que pais e filhos não mais se reconhecem, tal a
diferença de comportamento assumida pelo jovem. Parece que
de nada valeram a longa convivência no período da infância e os
conceitos sadios que se lhe tentaram incutir. Apesar disso, como
nada se perde, os ensinamentos permanecerão em estado de
latência e germinarão oportunamente. Muitas vezes, será a
própria vida que cuidará de regar as sementes com experiências
dolorosas que o jovem enfrentará por causa de seu
endurecimento e propensão ao erro. Os pais que fizeram tudo o
que puderam nada têm a recear de suas próprias consciências e
nem das leis divinas. Muitos são os Espíritos que reencarnam
com bons propósitos e fraquejam ainda na adolescência. A regra
geral é culpar os pais. Pode ser que pudessem ter feito mais e
melhor, mas como já foi dito antes, não existe arrastamento para
o mal e o jovem que se deixa levar por ele é porque ainda se
compraz nele. Enfim, as influências externas contribuem é certo,
mas não são determinantes, pois se vê filhos de pais alcoólatras
e de vida desregrada seguirem uma vida digna, ao lado de
irmãos que se deixaram conduzir pelo mau exemplo.

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