sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ADOLESCENTE, MAS DE PASSAGEM (4)




DO AMOR SENSUAL AO AMOR ESPIRITUAL

O amor é um tema tão importante para a vida humana que aparece em praticamente todo tipo de manifestação artística, cultural, religiosa ou científica. A psicologia procura entendê-lo, explicá-lo, considera seus aspectos psicossomáticos e no entanto, influenciada pelo materialismo, vai pouco além da superfície.

A dificuldade pode estar no fato de se confundir sensação com sentimento, paixão com amor. As sensações são dadas pelo corpo carnal. São o resultado de estímulos do sistema nervoso, que transmite as impressões de prazer ou dor ao Espírito, via corpo espiritual. As emoções, os sentimentos, são atributos exclusivos do ser imortal. O corpo físico não os possui. É fácil concluir, 

portanto, que não se pode “fazer amor”; se faz sexo.

A mente se nutre dos próprios pensamentos, como o corpo decarne se nutre da matéria do mundo que o constitui. O Espírito , de forma semelhante, se nutre de emoções, de sentimentos, cujos efeitos perduram por longo tempo. Os sentimentos felizes contribuem para a saúde espiritual, mental e física da criatura.

Entretanto, é importante compreender que o amor é uma expressão geral para o conjunto de virtudes e não constitui uma virtude à parte. É uma conquista lenta e gradual na proporção em que o Espírito avança na acumulação de experiências, de virtudes, que no seu conjunto passarão a refletir a posição evolutiva daquele ser. A solidariedade, o altruísmo, a preocupação com o bem-estar do próximo enfim, são formas já avançadas de amor.

Somente seres da estatura espiritual de um Jesus são capazes do amor-síntese, reflexo de seu grande avanço no campo do conhecimento e da moral.
Considerando a posição evolutiva média dos homens terrenos, esse amor-síntese ainda é uma meta a ser atingida. Ainda lutamos muito para sair do nosso egoísmo, da excessiva preocupação com nossos próprios interesses, e para a aquisição de virtudes básicas como a humildade e a caridade.

As emoções do adolescente, portanto, são importantes para a construção da sua nova personalidade, visando uma nova etapa evolutiva.

Freud, considerado o pai da psicanálise, escreveu que “no desenvolvimento da humanidade como um todo, tal como em indivíduos, somente o amor age como fator civilizador no sentido de que ele traz uma mudança do egoísmo para o altruísmo”. Realmente, é por causa do amor em sua expressão mais elevada que certas pessoas se doam por completo a ideais, muitas vezes sacrificando a própria felicidade e existência.

O amor sexual é um tipo de amor. Devido às alterações hormonais o jovem sente uma intensa excitação, aliada às novas emoções que experimenta.

Na realidade, o amor verdadeiro é calmo, pleno em si mesmo, gratificante; não é possessivo nem limitador. O que é mais comum na adolescência é aquilo que se chama paixão. Um tipo de amor que surge tão rapidamente como se esvai. Muitas vezes há mais desejo sexual, que é uma vontade de contato físico.

O desejo sexual normal, no dizer dosespecialistas, é puramente o desejo de ter contato com o corpo da outra pessoa e do prazer que esse contato produz.
As atividades que têm esse objetivo, por exemplo, beijar, abraçar e acariciar sob certas condições, são qualificadas de sexuais mesmo que não haja sintomas genitais de excitação.

Nesse período da vida a busca da auto-afirmação leva os jovens, mais que as jovens, a correrem riscos desnecessários como pegar o carro do pai e sair por aí demonstrando sua pretensa coragem e habilidade. Temeridade seria a palavra certa. O jovem expõe-se a causar danos a pessoas ou coisas, quando não a si mesmo. E o fato de ser um adolescente não o eximirá de responsabilidades perante as leis divinas, mesmo que escape das leis terrenas. Convém relembrar que a criança e o adolescente são, antes de tudo, Espíritos reencarnados.

Se as condições biopsíquicas próprias da adolescência implicam um certo determinismo em suas ações, o que é considerado tanto da perspectiva terrena quanto espiritual, isso não quer dizer que o rapaz ou a moça não gozem do seu livre arbítrio.

Não existe arrastamento para o mal, nos dizem os Espíritos que contribuíram para a codificação espírita. Se o ser se entrega a práticas ilegais ou ilícitas é porque ainda se compraz no mal.

Todo o edifício doutrinário espírita tem caráter preventivo e visa primordialmente nos auxiliar a fazer bom uso do livre arbítrio. O livre arbítrio pode ser entendido como sinônimo de liberdade. Há liberdade onde há escolha.
Pode ser ainda que o jovem descubra em si, ao entrar na adolescência, certos impulsos de ordem sexual que destoem do comum. A atração por pessoas do mesmo sexo é um tipo. Esbarramos aí na possibilidade de tendências homossexuais. Que fazer num caso destes? Sabemos que, essencialmente, o Espírito não tem sexo embora se manifeste com um psiquismo mais marcantemente masculino ou feminino ao longo da reencarnações.

Eventualmente todos nós passamos por inversões sexuais para conhecermos as experiências típicas do sexo oposto. Quando isso é feito com planejamento prévio e com interesse do Espírito reencarnante, não ocorrem grandes transtornos de adaptação. Mas podem ocorrer reencarnações compulsórias com inversão sexual e finalidade reeducativa do Espírito .

O mau uso das energias sexuais por longo tempo traz as chamadas compulsões, que são impulsos que fogem ao controle da pessoa.

Reencarnando no mesmo sexo fatalmente será levado a novos excessos, por isso a inversão sexual pode ser ao mesmo tempo um freio, já que os implementos sexuais não serão os mesmos, e uma possibilidade de reeducação, de reorientação das energias sexuais. Nesse ponto, lembramos ao leitor que o principal órgão sexual é a mente, e esses casos visam mudar os condicionamentos mentais do Espírito.

Vejamos qual deve ser a conduta do espírito em fase de reajuste de seus impulsos sexuais, conforme a orientação de Joanna de Ângelis, espírito, exposta no livro “No Limiar do Infinito”, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco:

“Os abusos praticados numa organização sexual impõem limites, constrangimentos e torpezas que fazem indispensáveis retificados na reencarnação imediata, quando, sob a constrição de várias conjunturas aflitivas, se derrapa o Espírito em novos compromissos viciosos em forma de fuga ou de corrupção das elevadas finalidades, volvendo a expiar, mediante a mudança de morfologia sob a difícil impulsão que se encontra na alma e a prisão na roupagem que lhe não responde ao anseio. (...).

Cumpre ao Espírito reencarnado submeter-se aos implementos da sua posição de prova ou de dor, granjeando valores novos que o alcem à normalidade triunfante na função carnal, de que se deve utilizar para vitórias sobre si mesmo, no laboratório da vida física”.

Como se vê, é feito um convite à contenção dos impulsos sexuais, direcionando-os de acordo com a condição do corpo atual e não das tendências trazidas do passado delituoso. Será sempre difícil obter-se um resultado positivo no curto prazo, mas com orientação adequada, força de vontade e o apoio de uma concepção religiosa que lhe corresponda aos anseios, será possível retificar a rota de sua orientação sexual.

A visão acanhada e materialista de certos especialistas diz que se deve dar vazão aos impulsos sexuais na forma em que se apresentarem.

Da perspectiva espírita seria um erro, pois implicaria a reincidência nos equívocos do passado, cristalizando os impulsos desequilibrantes e ampliando ainda mais seu comprometimento com as leis cósmicas que, eventualmente, serão acionadas com todo o seu rigor de modo a trazer ao caminho certo o ser fraco e recalcitrante.

Ainda nos apoiando em Joanna de Ângelis, no mesmo capítulo 9, Sexo e Reprodução, da obra citada, voltamos à questão do amor, onde ela nos alerta que: “assim considerando, embora as vinculações entre o amor e o sexo, o amor verdadeiro e real está acima das manifestações sexuais, como atributo da misericórdia divina, na sinfonia das belezas com que a vida se expressa”.

Entre o amor mais primitivo da fêmea que cuida de seus filhotes, atendendo aos impulsos de reprodução unicamente na época certa, por ocasião do cio, e o amor-síntese a que aludimos anteriormente, há uma infinidade de nuances e posições intermediárias. Deveremos conhecê-las para compreendê-las, e assim evoluir mais rapidamente sem nos determos em concepções equivocadas ditadas pelos interesses e conveniências da época. Entendamos que o amor sensual, embora lícito, é a base da escala, e que o amor espiritual a meta a ser atingida. Um amor que abarque a tudo e a todos indistintamente. Ainda é muito para nós, é certo, mas chegaremos lá algum dia, pois estamos todos destinados a isso.

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