OS PRECURSORES
A bela senhora chorava convulsivamente. Neiva consolava-a, constrangida, e eu apressei a saída dos curiosos. As duas permaneceram muito tempo juntas. Mais tarde, Neiva me chamou e apresentou-a. Pediu-me, então, que falasse sobre a Doutrina e mediunidade, pois dona Hilda queria desenvolver-se. Dias depois, dona Hilda apresentou-me o marido, um engenheiro de quarenta e cinco anos e de sucesso na carreira.
Casados há vinte anos, formavam um par harmonioso em temperamento e educação. Constrangia-me, apenas, o trato de ambos, excessivamente formal e distante. Chegavam no seu luxuoso carro com motorista, e sua presença contrastava com nosso ambiente humilde. Como estavam entregues aos meus cuidados de Doutrinador, me esforçava para que ficassem mais à vontade, menos formais.
Aos poucos, em dias sucessivos de contatos e trabalhos mediúnicos, ambos perderam boa parcela da reserva, e compareciam ao Vale em trajes esportivos. Dr. Jonas falava pouco e dona Hilda era mais desembaraçada. Felizmente, para mim e os que procuram o Vale, não penetro, habitualmente, nas particularidades do problema de cada um. Interesso-me, tão somente, pela natureza do assunto, e mantenho o diálogo sem confidências. Assim, ficamos mais à vontade, o cliente e eu.
Mas, chegou o dia em que o casal veio me solicitar um favor. Queria que eu conversasse com um seu filho, um rapaz de dezesseis anos. Prontifiquei-me logo e, alguns dias depois, o rapaz me foi apresentado. O contraste entre o jovem e os pais me chocou. Arrogante, cheio de expressões amargas, arredio a qualquer aproximação e revelando profundo desprezo pela família, Waltinho quase me tirou dos propósitos de ajuda. Ficou pouco tempo comigo, e eu, semiderrotado, procurei a Clarividente.
- Neiva, – disse eu – o que há com aquele rapaz, filho daquele casal do qual você me apresentou a mulher, dona Hilda?
- Mário, – respondeu ela – prepare-se para um choque: esse rapaz é viciado em drogas, e tem resistido a todos os meus esforços para sua recuperação. Seus pais são muito ricos, e já tentaram tudo que é possível, sem resultado. A esperança deles, agora, somos nós. Você reparou como ambos estão envelhecidos? Há dois anos que a vida deles é um inferno por causa desse filho. Eles têm outros dois filhos, mas é o Waltinho que está acabando com eles. Você não pode imaginar a humilhação que esse casal tem passado por causa dele. Desaparece de casa, e os dois passam dias e dias à sua procura, acabando por encontrá-lo num calabouço, numa delegacia ou em uma maloca de marginais. Calcule isso para um casal fino como eles, e na posição social em que se encontram!... Na semana passada, eles foram severamente advertidos por um delegado de polícia: seu filho, além das drogas, tem implicações políticas está envolvido em processos de subversão.
- Neiva, – indaguei – que quadro triste é esse, desses meninos! A que você atribui essa situação? Pelo que tenho visto aqui no Vale, e pelo que tenho lido e ouvido, ela é muito pior do que parece. Não sei se é porque eles despertam mais o noticiário ou porque os outros não aparecem. O fato é que, sempre, a gente sabe desses casos envolvendo famílias de nomes respeitáveis. Outro dia, li nos jornais que um homem importante repudiou seu filho publicamente. Você pode imaginar o que se estaria passando no coração desse pai? E os outros casos, em que temos tomado parte, nestes últimos tempos? Como você explica isso?
- Mário, – respondeu – parte desse problema é devido à educação, à vida que levam os pais, no que chamamos de sociedade. Essa parte você sabe melhor que eu: modificações sociais, progresso técnico, meios de divulgação e todas essas coisas que têm trazido mudanças tão violentas. Mas, o cerne do problema é puramente espiritual.
- Bem, – disse eu – no que se refere à sociedade e questões de progresso, há muitas explicações de sociólogos, psicólogos e educadores, mas nenhuma delas satisfaz. Veja o caso de Waltinho, por exemplo. Segundo me dizem seus pais, eles têm três filhos de idades aproximadas, e o único que está dando trabalho é o Waltinho.
- Não é bem assim, Mário. Já vi o quadro dessa família, e esses meninos estão, mais ou menos, na mesma situação. Os pais os julgam melhores porque eles disfarçam suas angústias. O foco de atenção é o Waltinho, devido à forma como a angústia dele se manifesta. Não disse nada a eles, mas um outro filho, de cujo nome não me lembro, está resvalando para o homossexualismo e a família ainda não sabe disso. Toda essa geração está sofrendo dos mesmos males.
- Então, Neiva, não há solução? Isso terá que ser assim, sem possibilidades?
- É lógico que tem solução. Você já se esqueceu do caso dos hippies?
- É, Neiva, de fato o que aconteceu com eles foi maravilhoso. Mas, me parece que eles não tinham os mesmos problemas do Waltinho ou do irmão dele.
- Não tinham? Mário, você nem queira saber! Eu é que sei, que conversei com eles individualmente. Os problemas deles eram tão graves como os de Waltinho. A diferença é que eles se desligaram das famílias, e saíram perambulando pelas estradas. Já Waltinho é mais introspectivo, mais minado. Com o nomadismo, os hippies se juntaram em grupos, o que lhes deu mais liberdade e mais força. Só que aquela alegria forçada escondia corações que sangravam. É por isso que eles adotam aquela atitude e linguagem agressivas, aquela aparente indiferença pela sociedade. Na verdade, eles já haviam desistido de encontrar qualquer solução para a sociedade que conhecem. Quando falo sociedade, eu falo de toda organização social, com seus psicólogos, sociólogos e sacerdotes. Você se lembra dos "bailes” que recebia deles, em matéria de conhecimento de doutrinas, religiões, livros, filosofias e práticas iniciáticas? E por que nenhuma dessas coisas solucionou o problema deles?
- Talvez, Neiva, porque sejam espíritos ruins, destruidores, que vieram mesmo para acabar com tudo, você não acha?
- Não, Mário, não acho. Os espíritos deles não diferem dos outros espíritos. Alguns são bons e outros são ruins, ou melhor, alguns são mais evoluídos e outros menos. A explicação não está nesse ponto, se é que você quer uma explicação.
- É lógico que quero, Neiva. Se tivermos uma explicação para esse fenômeno, iremos ajudar a solucionar o problema, como, aliás, temos ajudado a tantos pais e tantos filhos, sem falar no caso dos hippies.
- Bem, Mário, para entendermos isso é preciso nos colocarmos na posição certa. A Terra está saindo de um ciclo evolutivo, de mais uma volta na roda do destino. Estamos no limiar do Terceiro Milênio. Quando digo milênio, falo, apenas, de um nome com que se convencionou chamar a nova forma vivencial, a nova civilização. A atual já produziu seus frutos, já se exauriu e, como nos ciclos biológicos, produz a semente do futuro, da perpetuidade, da continuação para o infinito. Ora, quando falamos em civilização, estamos falando das conquistas, da média evolutiva que está contida nos indivíduos, no espírito que compõe a humanidade. As coisas, as conquistas da civilização não existem por si, mas, sim, nos espíritos. Lembra do Mestre Jesus, quando disse que não acumulássemos tesouros na Terra, porque são perecíveis? Pois bem, se a civilização está nos indivíduos, nos espíritos, ela está tanto aqui, na face da Terra, como está nos outros lugares onde haja espíritos, certo? E se os espíritos são os portadores da civilização, eles também são portadores de tudo que ela contém, das coisas que conceituamos como boas ou julgamos que sejam más.
- Mas, Neiva, – aparteei – se isso acontece assim, então não haveria progresso, não haveria evolução. Se os espíritos vão e vêm, encarnam e desencarnam, e são, sempre, portadores das mesmas coisas, isso não faz muito sentido.
- Calma, Mário. Você já se esqueceu das coisas que conhece do mundo espiritual? Ao passarem pelos planos astrais, mentais e etéricos, os espíritos aprendem, têm novas perspectivas, e vêem, com mais clareza, os problemas da sociedade. Isso tanto acontece no sentido individual – os espíritos se esclarecem sobre seus próprios problemas – como no sentido coletivo e social. É assim que eles trazem novas conquistas, novas formas civilizatórias. Faz-se necessário um esclarecimento: a civilização não se manifesta de maneira uniforme e ao mesmo tempo. Na Terra, o ciclo é composto de um princípio e um fim, e é por isso que nós podemos separar uma parte do infinito em termos de Segundo e Terceiro Milênios. Sempre a civilização se colocou assim, para dar oportunidade a espíritos em todos os graus evolutivos. Temos, assim, os grupos, as religiões, as famílias espirituais, as falanges, os países e as civilizações. Por isso falamos em civilização mediterrânea, civilização européia, civilização antiga, etc.
- Bem, Neiva, acho que começo a compreender. Estamos habituados a tomar por um todo o que nos é conhecido de imediato, e esquecemos daquilo que não ocupa o campo de nossa consciência.
- É mais ou menos assim, Mário, e é por isso que a gente confia na direção dos Mentores e Guias. Subentendemos que eles, tendo uma visão global, mais ampla, podem estabelecer as diretivas consoantes com o geral. Mas, voltemos à civilização. Os espíritos não são limitados pelas questões geográficas, como os encarnados. De acordo com seus planos e destinos, podem encarnar onde lhes for destinado ou se destinarem. Assim, nós podemos entender porque algumas civilizações progridem e outras estacionam, havendo, até mesmo, aquelas que regridem, em termos civilizatórios. Repare o caso de nosso País. Dizem que somos um País jovem e do futuro, e isso é, realmente, assim. Mas, por que?
- Sim, – perguntei – por que?
- Você vai estranhar um pouco a resposta, Mário. Nosso País é jovem porque está recebendo, em sua civilização, espíritos velhos!
- Essa, agora, foi forte, Neiva. Espíritos velhos?
- Sim, Mário, espíritos velhos, experientes, tarimbados, evoluídos, e que já vêm preparados para enfrentar o novo ciclo que se aproxima. Essa é a verdade, e não estranho o seu espanto. É difícil conceber que no Brasil, particularmente nas regiões mais novas, como é o Planalto Central, em que moramos, estejam nascendo, neste mesmo instante, espíritos veteranos de muitas eras civilizatórias.
- Bem, Neiva, até aí acho que posso entender. Mas, uma coisa me resta entender. Se esses espíritos são assim tarimbados, se trazem consigo a experiência de milhares de anos, por que este conflito todo? Por que este abismo entre as gerações, de que tanto se fala? Experientes como são, não teriam eles meios de evitar essa situação dolorosa?
- Mário, meu amigo, você já viu parto sem dor? Sim, existe, mas não o parto sem sofrimento, e assim é na civilização. É lógico que, se esses espíritos são os precursores de novas formas de vida, eles têm, necessariamente, de entrar em conflito com as velhas formas. Note-se, ainda, o fato de que eles são os primeiros, os pioneiros das idéias novas, mas que estão mergulhados num mundo de coisas velhas e superadas. Dentro de si eles trazem o mesmo conflito que se exterioriza na sociedade. Daí os choques e a ânsia de liberdade desses jovens. Se considerarmos que os mesmos espíritos, portadores da nova civilização, são relacionados com os outros, os não pioneiros, os que estão partindo e não chegando, compreenderemos melhor o conflito.
- Mas, Neiva, onde fica, nisso tudo, a questão cármica, a faixa de reajustes?
- Uma coisa não invalida a outra, Mário. O fato de uma pessoa ser militar, médico ou astronauta, não quer dizer que ele não seja, também, filho ou pai. Por isso, um espírito que venha para este planeta, com novas idéias, não significa que ele deixe de possuir sua família espiritual, seus cobradores e seus credores espirituais.
- Essa é uma idéia difícil de aceitar, Neiva. Custa-me crer que espíritos assim evoluídos produzam fatos como esse de Waltinho e outros semelhantes.
- Mário, por mais evoluído que seja um espírito, quando ele se submete às condições de encarnado passa a ser regido pelas leis que comandam este plano. Se meditar sobre isso, vai entender o porquê da vida de Jesus e de todos os líderes de todos os tempos. O ser encarnado age através de uma personalidade transitória, submetida às leis físicas e psíquicas do seu meio. Mas, seu espírito transcendental traz, em si, as coisas que pertencem a leis mais amplas, às leis do espírito. Note que esses jovens, quando encontram um equacionamento, quando sobrevivem aos fatos destrutivos, se realizam de maneira extraordinária e feliz. Na verdade, nossos olhos estão sempre voltados para os jovens que estão no seu aspecto negativo. Por isso, seria bom que nos voltássemos para os mesmos jovens, no seu aspecto positivo. Você mesmo, Mário, viveu aquela experiência notável, quando aqueles jovens, em conflito com boa parte da sociedade, principalmente com seus pais, mostraram-se capazes de entender e viver a Lei do Amor e do Perdão do Cristo. Devemos é procurar ampliar as nossas perspectivas e ter tolerância, muita tolerância. Temos que considerar que esses espíritos estão chegando a um verdadeiro campo de batalha. Repare como estão crescendo e sendo educadas as nossas crianças, em meio a instituições que se desmoronam, da mesma forma que milhares de crianças estão sendo geradas e criadas no meio de guerras e destruição, como, hoje, na Indochina. Você acha que as outras, aquelas que não estão nas regiões atingidas pelas guerras, não são também afetadas?
- É lógico que são. – pensei eu – Quem, hoje, não é afetado, de uma forma ou de outra, pelo que se passa no mundo?
- Outro fato para o qual chamo sua atenção, Mário, é o que se refere aos espíritos que estão reencarnando nesta parte do mundo. Em sua maioria, são oriundos da Europa, e tiveram muito pouco tempo nos planos espirituais. Todos eles desencarnaram em plena guerra. Entre nós existem, atualmente, milhares de alemães, americanos, russos, japoneses, judeus e todas as raças e povos que lutaram entre si.
- Devagar, Neiva. – pedi – Devagar, porque essa idéia traz implicações demais. Se esses espíritos participaram da última guerra mundial, quaisquer que sejam suas posições de civis ou militares, eles têm motivos de sobra para serem revoltados. Meus Deus! Posso imaginar o que será a mente de um jovem traz recordações inconscientes, mal apagadas pelo curto tempo de permanência no plano espiritual, de um conflito que, até hoje, é duvidoso nas suas perspectivas! É, Neiva, assim a gente é obrigado a lhes dar razão em muitas coisas.
- Somente em algumas, Mário, não em todas. Não se esqueça de que eles, nas suas variadas posições, sempre agiram obedecendo ao seu livre arbítrio. Foram bons ou maus, de acordo com suas próprias decisões. O que temos que considerar é o aspecto traumático, a recordação recente, que explica certas coisas, mas não as justifica. É lógico que, se tomarmos isso em conta, muda muito a nossa atitude em relação a eles. O conflito é maior porque o padrão de referência, na educação, ainda é o velho materialismo, pressupondo que o ser humano é inteiramente novo, “zero quilômetro”. Talvez esse padrão tenha servido em outras eras, mas, agora, está superado.
- Mas, por que, Neiva? Os seres humanos não são, sempre, seres humanos? Os que nasceram há um século não tinham, também, suas reservas de memória espiritual?
- Sim, o ser humano encarnado é basicamente o mesmo. As condições de encarnação é que mudaram. Não se esqueça de que a transição do Segundo para o Terceiro Milênio não é, somente, uma transição civilizatória, pois está havendo uma modificação de posição planetária na relatividade sideral. Fenômenos extraordinários estão acontecendo, como, aliás, já aconteceram em outras épocas, só sendo percebidos por alguns espíritos, conforme a área em que se manifestam. Na nossa área, o fenômeno mais extraordinário é o da mediunidade. Sim, as condições mediúnicas do planeta, há um século, eram bem diferentes das condições atuais. Em suas aulas, Mário, você afirma que a mediunidade é um fato físico, biológico. É verdade, e, dessa forma, ela tem que, necessariamente, ser afetada pelas alterações planetárias.
- Acho, Neiva, que, na verdade, o ser biológico está sendo muito pouco afetado pelas modificações que se operam. Se nos basearmos na Biologia, somos obrigados a reconhecer que as transformações se operam lentamente, em termos de milhões de anos.
- De acordo. Mas lembre-se de que falamos de mediunidade como um fato de base biológica, quer dizer, que tem suas raízes na organização sangüínea e no sistema nervoso. Suas manifestações são energias que ligam dois planos, um visível e um invisível, o plano do físico e o do espírito. Ora, se pensarmos em termos de dinâmica, as modificações psíquicas são muito mais rápidas que as do plano mais denso. É isso, aliás, que precisamos entender, se quisermos socorrer nossos irmãos, especialmente os jovens. Nas atuais condições físicas e espirituais, sua força mediúnica se manifesta muito mais cedo, e com mais intensidade, e esse é o fator determinante das suas atitudes. É essa energia que lhes permite a coragem e a independência com que se manifestam no mundo atual, independentemente de fatores morais ou intelectuais. É por isso que sabemos de movimentos jovens destrutivos, virulentos e absurdos. A força tanto age num sentido como em outro. O que é preciso, antes de tudo, é assumir posição realista diante desses problemas. Temos que, necessariamente, abandonar as formas complicadas de verificação, nos baseando nas formas simples, na observação do quotidiano, na observação de nós mesmos. O melhor laboratório que existe na Natureza é o nosso – eu, você, ele – e o segredo está na síntese das coisas, não nas complicadas análises. Observe o caso da educação escolar. Sabemos e verificamos todos os dias, que as crianças se comunicam com o meio-ambiente pela mediunidade. Com isso, elas entram em contato com outros planos, sem distinguir o que é concreto, isto é, matéria, e o que é abstrato, imaterial. Fala com espíritos, vê espíritos, brinca com espíritos, enfim, tem um relacionamento natural com os outros planos. Entretanto, só nos baseamos, na educação em casa e na escola, em premissas totalmente diferentes! Quando falo em simplicidade, em observação do quotidiano, é para que cada um de nós as observe por si mesmo, e não fique na dependência de complicadas análises do ser humano. Conviva com as crianças, e observe os fatos considerados estranhos que se passam com elas. Quase todo pai ou mãe julga que seu filho é excepcional, que faz coisas que as outras crianças não fazem, já observou? Aparentemente, é vaidade paterna. Na realidade, são fatos observados e filtrados por padrões de referências tradicionais. Ah! Se os educadores admitissem o fato mediúnico, quantas dores não seriam poupadas a esta pobre humanidade!...
- Mas, afinal, Neiva, o que você acha que deveria ser feito nesse sentido? Nota-se que, ultimamente, há grande interesse nos assuntos espirituais, preconizando-se, mesmo, que as Ciências Espirituais irão predominar, em interesse, sobre a Ciência tradicional. Você acha que isso está acontecendo e é verdade?
- Não sei!... É difícil termos a perspectiva certa da guerra quando se está no campo de batalha. O que podemos fazer é estarmos preparados para o futuro e trabalhar no presente. Observe o que está acontecendo, e veja, com cuidado, os fenômenos que se apresentam pelos que vêm em busca do socorro espiritual. Compare os fatos com as profecias, quaisquer que sejam as formas como essas profecias se apresentam. Lembra quando nossos Mentores nos avisaram que os fenômenos cósmicos, as transformações da Terra, teriam maior intensidade em 1984 e, constantemente, eles nos falam no Terceiro Milênio e mencionam esse ano? Pois bem, Mário. Observe nos jornais, revistas e livros como essa data é mencionada com insistência, quando se referem a fatos futuros. Existe até um livro de ficção científica com essa data como título. Acrescente a isso as constantes referências a fenômenos meteorológicos fora do comum, fatos estranhos em psiquismo, mensagens aparentemente absurdas, a eternidade dos conflitos bélicos, as constantes violências, enfim, toda a gama de fatos e ocorrências que indicam anormalidade. Repare, também, como as mensagens dos Evangelhos vão se tornando reais, de como sua autenticidade salta aos nossos olhos com facilidade. Tudo isso gera, espontaneamente, o interesse humano para as coisas espirituais ou, como você diz, para as Ciências Espirituais. Quanto ao que fazer, Mário, é problema essencialmente individual. Cada ser recebe os estímulos à sua vivência de acordo com sua programação cármica e missionária. Seu problema é ser coerente com isso. A maior parte da angústia individual não reside na situação da humanidade e, sim, na sua posição em relação a isso. No meio do maior conflito, o Homem pode ser feliz e tranqüilo, desde que esteja coerente com o seu próprio destino. Para isso, é necessário, apenas, que ele ouça a voz íntima da própria consciência e aja de acordo com ela. Buscar a solução numa religião ou filosofia, como quem compra uma roupa feita, já é uma atitude fora de moda. Todo Homem tem que encontrar a sua religião, sua doutrina ou sua filosofia. Se ela coincidir com a de outros, tanto melhor. Esse problema é simples, mas fundamental. Todos somos ligados a famílias espirituais, no seio das quais convivemos milênios. Nosso problema é encontrar, na presente situação, a nossa família e trabalhar junto com nossos irmãos. Quanto aos jovens de hoje, a afirmação é tranqüila. Eles são os precursores do Terceiro Milênio. Sejam bons ou maus, estão sempre à procura de algo que ainda não se definiu. Não vamos condená-los por isso. Nós somos da geração do Segundo Milênio, da Era do Amor, da Humildade e da Tolerância, e nos compete agir de acordo com essas premissas. Eles são os pilotos que vão decolar para o futuro. Nós somos os construtores, os mecânicos, os meteorologistas, e construímos os campos para a decolagem deles. Do acerto de nosso trabalho depende o sucesso da missão deles.
- Neiva, essas palavras: Amor, Humildade e Tolerância, sintetizam toda a Doutrina de Jesus. Será que ela não serve para eles?
- Serve, Mário, enquanto eles estão na tônica deste milênio, na emanação de produtos do meio. Mas, ao mesmo tempo em que ouvem a Doutrina de Jesus, eles vêem uma realidade disforme, que não corresponde a isso. Procure compreender, e se colocar no lugar deles. Sabemos que a Doutrina seria incoerente se o mundo não fosse como é. A Doutrina do Cristo, tomada no seu sentido universal, se aplica à humanidade enferma e visa sua saúde. Aplica-se à humanidade como ela é, são qualidades preconizadas para certos defeitos. Subtende-se que essas enfermidades já não existirão no Terceiro Milênio, sendo substituídas por outros obstáculos evolutivos, o que exigirá outras formas de comportamento. Na Espiritualidade se diz que as siglas para o Terceiro Milênio serão: Deus, Paz e Fraternidade. Observe essas três palavras, e veja como elas são coerentes, como complementação, etapa seguinte das atuais. A Humildade nos leva à sabedoria, ao conhecimento, a sentir Deus. Teremos, então, não um Deus abstrato e antropomórfico, mas um Deus real, visível, mais palpável. O Amor nos leva à tônica da Paz, da tranqüilidade ativa. E a Tolerância nos leva à Fraternidade, a viver bem com nossos irmãos. Creio que isso dá para entender o futuro. Essa civilização se exaure pelo término de uma tarefa crística. Os espíritos que alcançarão a próxima etapa evolutiva vão viver de acordo com ela. Os que não conseguirem, serão atraídos, por afinidade, para as etapas onde ainda permanecem. Cada um terá a oportunidade, de acordo com seu padrão vibratório. Quanto ao planeta físico, ele ganhará uma espécie de promoção, o direito de ter em seu seio espíritos em harmonia com sua situação cósmica. Se o eixo da Terra se endireitar, como parece que vai acontecer, teremos um regime climático diferente, muito mais regular. Talvez, então, o planeta corresponda ao paraíso bíblico e a vivência seja mais fácil, de modo a facilitar a existência de Deus, Paz e Fraternidade! O que se vê, na juventude de hoje, é, justamente, a busca desse paraíso. Por enquanto, o fazem na base deformada das drogas, fugas das normas sociais, na licenciosidade. Em pouco, o farão na base de rotas mais seguras. Sejamos pacientes!...
Eu acabava de registrar esse longo diálogo com a Clarividente, a missionária de olhos infinitos, e quedei-me a pensar. Rostos jovens e sorridentes passavam pela minha memória. Lembrei-me de seus gestos, de seus olhos às vezes tristes, da ternura com que os via se abraçarem, da solidão em que viviam, e meu coração se apertou.
Lembrei-me de meus próprios filhos, soltos no mundo, distantes de mim, e senti imenso amor por todos eles. Arrependi-me dos meus momentos de intolerância às suas músicas estridentes, seus trajes bizarros, seus colares coloridos, suas pretensões intelectuais, sua linguagem abusada, sua irreverência às nossas autoridades e aos nossos sistemas políticos, e desejei que eles continuassem nos visitando, aqui no Vale do Amanhecer. Graças a Deus, eles voltaram várias vezes, e aqui estaríamos nós, os missionários do Segundo Milênio, preparando-lhes o caminho para o Terceiro Milênio!