terça-feira, 30 de novembro de 2010

O F E N S A




O F E N S A
Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

Aprendamos a ver nas realidades supremas do espírito, para que a ofensa não se converta em obstáculo anestesiante de nossas energias no caminho espiritual.
Observemos a natureza.
O lavrador parece ironizar a semente, impondo-lhe a solidão na cova fria, mas a semente reage, transformando-se em flor e fruto, a sustentar-lhe o celeiro.
O escultor parece ferir o mármore, aplicando-lhe perfurantes golpes de buril, mas a pedra responde, oferecendo-lhe a obra-prima a imortalizar-lhe o nome.
O artífice parece condenar o tronco bruto à extrema crueldade, desbastando-lhe o corpo, entretanto, a madeira dá forma a utilidades mil, reconfortando-lhe o templo doméstico.

É preciso compreender na ofensa recebida essa ou aquela oportunidade de triunfo sobre nós mesmos.

Sem dificuldade, ninguém consegue aferir as próprias conquistas; sem luta, o mérito é simples palavra ornamental.
Lembremo-nos de que o Mestre inesquecível recebeu a ofensa da morte na cruz, transubstanciando-a em luminosa ressurreição.

Do escuro menosprezo da Terra fez Jesus o caminho radiante para os Céus.

Não te esqueças de semelhante verdade e faze do golpe que recebeste no cotidiano, abençoado motivo de progresso e renovação.

Auxilia aos que te seguem os passos e mantém a certeza de que receberás em pagamento de paz e luz o concurso daqueles que te antecederam no acesso às culminâncias da Vida Maior.

(Do livro "Alvorada do Reino", pelo Espírito Emmanuel, Francisco Cândido Xavier)

PROBLEMA DO PERDÃO




PROBLEMA DO PERDÃO
Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

A Divina Tolerância não constitui subversão da ordem no campo da justiça.
O perdão do Senhor é sempre transformação do mal no bem, com a renovação de nossas oportunidades de luta e resgate, no grande caminho da vida.
Vejamos a Terra, em sua função de escola de nossos espíritos endividados e reconheceremos a Bondade Celeste atuando, de mil modos diversos, cada dia, no serviço de reajuste.
Aqui, as feridas do corpo apagam o incêndio que ateávamos no passado, buscando a destruição do próximo.
Ali, enfermidades de diagnose obscura regeneram nossos velhos desequilíbrios do estômago ou do sexo.
Além, padecimentos morais inomináveis solucionam compromissos pesados, assumidos por nós mesmos, à frente dos nossos semelhantes.
Acolá, na guerra fria da trincheira doméstica, antigos adversários permanecem jungidos uns aos outros, nas férreas teias das circunstâncias que lhes constrangem as almas à experiência comum.
Enquanto houver dívida em nossa marcha, haverá reajustamento pela dor.
É que sendo Deus, Amor e Sabedoria, nossas ofensas não Lhe atingem a Magnificência e o Esplendor.
Nossas faltas atiradas à face do Todo-Compassivo são como borrifos de lama arrojados ao Sol.
Somos, porém, descendentes de Sua Luz, e, por isso mesmo, a Justiça nos rege.
A Bondade Infinita do Criador ou daqueles que O representam nos afaga e desculpa sempre, entretanto, nossa consciência jamais nos perdoa.
A Lei do Eterno Equilíbrio brilha em nós, indicando-nos o caminho da Ascensão quando nos achamos quites com os seus decretos de Bênçãos ou da reabilitação, se nos constituímos seus devedores.
Tenhamos, desta forma, cuidado em não tisnar a alvura de nossa vestimenta interior, ou então, empenhemos nossas melhores energias por refazer-lhe a brancura, porquanto, amanhã, a vida nos pedirá contas do tempo e dos recursos que nos foram emprestados, e, não nos ausentaremos do círculo escuro de nossas defecções morais, enquanto não formos perdoados por nosso tribunal íntimo, de vez que, como criaturas de Deus, desejamos senhorear a Sublime Herança que nos é reservada, não à conta de mendigos ou mercenários da Graça Divina, mas, na posição de Filhos Redimidos de Nosso Pai Celestial.

(Do livro "Refúgio", pelo Espírito Emmanuel, Francisco Cândido Xavier)

DOENÇAS FANTASMAS




DOENÇAS FANTASMAS
André Luiz
Francisco Cândido Xavier

Somos defrontados com frequência por aflitivo problema cuja solução reside em nós.
A ele debitamos longas fileiras de irmãos nossos que não apenas infelicitam o lar onde são chamados à sustentação do equilíbrio, mas igualmente enxameiam nos consultórios médicos e nas casas de saúde, tomando o lugar de necessitados autênticos.
Referimo-nos às criaturas menos vigilantes, sempre inclinadas ao exagero de quaisquer sintomas ou impressões e que se tornam doentes imaginários, vítimas que se fazem de si mesmas nos domínios das moléstias-fantasmas.
Experimentam, às vezes, leve intoxicação, superável sem maiores esforços, e, dramatizando em demasia pequeninos desajustes orgânicos, encharcam-se de drogas, respeitáveis quando necessárias, mas que funcionam a maneira de cargas elétricas inoportunas, sempre que impropriamente aplicadas.
Atingido esse ponto, semelhantes devotos da fantasia e do medo destrutivo caem fisicamente em processos de desgastes, cujas conseqüência ninguém pode prever, ou entram, modo imperceptíveis para eles, nas calamidades sutis da obsessão oculta, pelas quais desencarnados menos felizes lhes dilapidam as forças.
Depois disso, instalada a alteração do corpo ou da mente, é natural que o desequilíbrio real apareça e se consolide, trazendo até mesmo a desencarnação precoce, em agravo de responsabilidade daqueles que se entibiam diante da vida, sem coragem para trabalhar, sofrer e lutar.
Precatemo-nos contra esse perigo absolutamente dispensável.
Se uma dor aparece, auscultemos nossa conduta, verificando se não demos causa à benéfica advertência da Natureza.
Se surge a depressão nervosa, examinemos o teor das emoções a que estejamos entregando as energias do pensamento, de modo a saber se o cansaço não se resume a um aviso salutar da própria alma,para que venhamos a clarear a existência e o rumo.
Antes de lançar qualquer pedido angustiado de socorro, aprendamos a socorrer-nos através da auto-análise, criteriosa e consciente.
Ainda que não seja por nós, façamos isso pelos outros, aqueles outros que nos amam e que perdem, inconseqüentemente, recurso e tempo valiosos, sofrendo em vão com a leviandade e a fraqueza de que fornecemos testemunhos.
Nós que nos esmeramos no trabalho desobssessivo, em Doutrina Espírita, consagremos a possível atenção a esse assunto, combatendo as doenças-fantasmas que são capazes de transformar-nos em focos de padecimentos injustificáveis a que nos conduzimos por fatores lamentáveis de auto-obsessão.

(Do livro "Estude e Viva", pelo Espírito Emmanuel, Francisco Cândido Xavier)

O MUNDO DAS NAIADES




O MUNDO DAS NAIADES - 1960

Salve Deus!
Despertei, e, ao abrir os olhos, achei-me sentada sobre a relva, à sombra da frondosa árvore onde, evidentemente, havia adormecido.
Comecei a me lembrar que o sol ainda brilhava ao poente quando me destinara a sair do corpo, ou melhor, quando uma força enorme me arrancava do corpo, do meu corpo.
Sem tempo para analisar muito, vi duas lindas moças que chegaram e, sem falar, tinham escrito nas roupas “Marta” e “Efigênia”. E, da maneira como eu ia harmonizando-me, ia também, dando conta de onde estava.
Estava em outra dimensão, que não a minha. A iluminação era tão diferente, e um pouco triste.
Pensei: Viver aqui seria realmente a morte!
- Neiva, - ouvi alguém dizer - a atmosfera material está roubando-te a paz. O sol diminui a duração da vida, desde o nascimento até se pôr. O tempo é chamado presente, passado e futuro. O que agora é presente, amanhã será passado; e o que agora é futuro, amanhã será presente. Acaba o futuro do corpo que, aqui, não pertence à categoria do presente, passado e futuro, e, sim, pertence à Eternidade. Por conseguinte, não deves preocupar-te em como alcançar a plataforma da Eternidade. Deves utilizar a consciência desenvolvida do ser humano, nas proporções animais: comer, dormir, enfim, dando razão as coisas da Terra, que normalizam o centro nervoso. O homem vive e se alimenta das coisas que Deus criou.
E, respondendo a uma pergunta que pairava no meu pensamento, disse:
- O sexo é uma decorrência da criação da natureza dos homens.
- Graças a Deus, estou em outro mundo, e ouço tudo isso, pensei.
- Sim, sem os falsos preconceitos - rematou a voz.
Nisso, apareceram alguns casais em diversas sintonias. Lindos, lindos! É difícil dizer as coisas que faziam. De repente, um clássico, conhecido, encheu de alegria toda aquela paisagem.
Alguns dançavam, outros corriam para ser alcançados por seus namorados.
Deduzi: As almas gêmeas de André Luiz! Salve Deus! - pensava, já sem as explicações daquela voz.
Contudo, não conseguia sair dali, remoendo, em minha cabeça: a minha categoria é ainda do passado, presente e futuro... Enquanto estes, a sua categoria é a Eternidade. Será um sonho tudo o que vejo? Será apenas um sonho?
- Não é sonho! - disse-me novamente a voz - Este é o mundo dos NAIADES! Aqui sentimos o aroma da Terra.
Nisso uma jovem que estava dançando, caiu como que desmaiada.
- Meu Deus! – exclamei - Desmaiou...
- São vibrações da Terra! Esta moça tem sua alma gêmea segura em outra dimensão, onde ainda há reparações. Temos sete dimensões até chegar ao Canal Vermelho, que é o primeiro degrau celestial.
A música parou e todos foram em socorro da mulher. Pela primeira vez vi fios dourados seguindo naquele horizonte. E agora?
A voz continuou:
- O felizardo, do outro lado se libertou.
- E para onde irá?
- Para outra dimensão, dando sempre continuidade à sua evolução.
- Que coincidência! - pensei.
- Não, Neiva, a vida não pára. Aqui o mundo vive a sua própria evolução. Volte para o teu corpo, que já tem muito tempo que saístes.
Voltei. Já estava escuro. Algumas pessoas me perguntaram se eu estava bem.
E essas viagens se amiudaram...
Salve Deus! Com carinho, a mãe em Cristo,

Sob os olhos da clarividente (12)




OS  PRECURSORES

A bela senhora chorava convulsivamente. Neiva consolava-a, constrangida, e eu apressei a saída dos curiosos. As duas permaneceram muito tempo juntas. Mais tarde, Neiva me chamou e apresentou-a. Pediu-me, então, que falasse sobre a Doutrina e mediunidade, pois dona Hilda queria desenvolver-se. Dias depois, dona Hilda apresentou-me o marido, um engenheiro de quarenta e cinco anos e de sucesso na carreira.
Casados há vinte anos, formavam um par harmonioso em temperamento e educação. Constrangia-me, apenas, o trato de ambos, excessivamente formal e distante. Chegavam no seu luxuoso carro com motorista, e sua presença contrastava com nosso ambiente humilde. Como estavam entregues aos meus cuidados de Doutrinador, me esforçava para que ficassem mais à vontade, menos formais.
Aos poucos, em dias sucessivos de contatos e trabalhos mediúnicos, ambos perderam boa parcela da reserva, e compareciam ao Vale em trajes esportivos. Dr. Jonas falava pouco e dona Hilda era mais desembaraçada. Felizmente, para mim e os que procuram o Vale, não penetro, habitualmente, nas particularidades do problema de cada um. Interesso-me, tão somente, pela natureza do assunto, e mantenho o diálogo sem confidências. Assim, ficamos mais à vontade, o cliente e eu.
Mas, chegou o dia em que o casal veio me solicitar um favor. Queria que eu conversasse com um seu filho, um rapaz de dezesseis anos. Prontifiquei-me logo e, alguns dias depois, o rapaz me foi apresentado. O contraste entre o jovem e os pais me chocou. Arrogante, cheio de expressões amargas, arredio a qualquer aproximação e revelando profundo desprezo pela família, Waltinho quase me tirou dos propósitos de ajuda. Ficou pouco tempo comigo, e eu, semiderrotado, procurei a Clarividente.
- Neiva, – disse eu – o que há com aquele rapaz, filho daquele casal do qual você me apresentou a mulher, dona Hilda?
- Mário, – respondeu ela – prepare-se para um choque: esse rapaz é viciado em drogas, e tem resistido a todos os meus esforços para sua recuperação. Seus pais são muito ricos, e já tentaram tudo que é possível, sem resultado. A esperança deles, agora, somos nós. Você reparou como ambos estão envelhecidos? Há dois anos que a vida deles é um inferno por causa desse filho. Eles têm outros dois filhos, mas é o Waltinho que está acabando com eles. Você não pode imaginar a humilhação que esse casal tem passado por causa dele. Desaparece de casa, e os dois passam dias e dias à sua procura, acabando por encontrá-lo num calabouço, numa delegacia ou em uma maloca de marginais. Calcule isso para um casal fino como eles, e na posição social em que se encontram!... Na semana passada, eles foram severamente advertidos por um delegado de polícia: seu filho, além das drogas, tem implicações políticas está envolvido em processos de subversão.
- Neiva, – indaguei – que quadro triste é esse, desses meninos! A que você atribui essa situação? Pelo que tenho visto aqui no Vale, e pelo que tenho lido e ouvido, ela é muito pior do que parece. Não sei se é porque eles despertam mais o noticiário ou porque os outros não aparecem. O fato é que, sempre, a gente sabe desses casos envolvendo famílias de nomes respeitáveis. Outro dia, li nos jornais que um homem importante repudiou seu filho publicamente. Você pode imaginar o que se estaria passando no coração desse pai? E os outros casos, em que temos tomado parte, nestes últimos tempos? Como você explica isso?
- Mário, – respondeu – parte desse problema é devido à educação, à vida que levam os pais, no que chamamos de sociedade. Essa parte você sabe melhor que eu: modificações sociais, progresso técnico, meios de divulgação e todas essas coisas que têm trazido mudanças tão violentas. Mas, o cerne do problema é puramente espiritual.
- Bem, – disse eu – no que se refere à sociedade e questões de progresso, há muitas explicações de sociólogos, psicólogos e educadores, mas nenhuma delas satisfaz. Veja o caso de Waltinho, por exemplo. Segundo me dizem seus pais, eles têm três filhos de idades aproximadas, e o único que está dando trabalho é o Waltinho.
- Não é bem assim, Mário. Já vi o quadro dessa família, e esses meninos estão, mais ou menos, na mesma situação. Os pais os julgam melhores porque eles disfarçam suas angústias. O foco de atenção é o Waltinho, devido à forma como a angústia dele se manifesta. Não disse nada a eles, mas um outro filho, de cujo nome não me lembro, está resvalando para o homossexualismo e a família ainda não sabe disso. Toda essa geração está sofrendo dos mesmos males.
- Então, Neiva, não há solução? Isso terá que ser assim, sem possibilidades?
- É lógico que tem solução. Você já se esqueceu do caso dos hippies?
- É, Neiva, de fato o que aconteceu com eles foi maravilhoso. Mas, me parece que eles não tinham os mesmos problemas do Waltinho ou do irmão dele.
- Não tinham? Mário, você nem queira saber! Eu é que sei, que conversei com eles individualmente. Os problemas deles eram tão graves como os de Waltinho. A diferença é que eles se desligaram das famílias, e saíram perambulando pelas estradas. Já Waltinho é mais introspectivo, mais minado. Com o nomadismo, os hippies se juntaram em grupos, o que lhes deu mais liberdade e mais força. Só que aquela alegria forçada escondia corações que sangravam. É por isso que eles adotam aquela atitude e linguagem agressivas, aquela aparente indiferença pela sociedade. Na verdade, eles já haviam desistido de encontrar qualquer solução para a sociedade que conhecem. Quando falo sociedade, eu falo de toda organização social, com seus psicólogos, sociólogos e sacerdotes. Você se lembra dos "bailes” que recebia deles, em matéria de conhecimento de doutrinas, religiões, livros, filosofias e práticas iniciáticas? E por que nenhuma dessas coisas solucionou o problema deles?
- Talvez, Neiva, porque sejam espíritos ruins, destruidores, que vieram mesmo para acabar com tudo, você não acha?
- Não, Mário, não acho. Os espíritos deles não diferem dos outros espíritos. Alguns são bons e outros são ruins, ou melhor, alguns são mais evoluídos e outros menos. A explicação não está nesse ponto, se é que você quer uma explicação.
- É lógico que quero, Neiva. Se tivermos uma explicação para esse fenômeno, iremos ajudar a solucionar o problema, como, aliás, temos ajudado a tantos pais e tantos filhos, sem falar no caso dos hippies.
- Bem, Mário, para entendermos isso é preciso nos colocarmos na posição certa. A Terra está saindo de um ciclo evolutivo, de mais uma volta na roda do destino. Estamos no limiar do Terceiro Milênio. Quando digo milênio, falo, apenas, de um nome com que se convencionou chamar a nova forma vivencial, a nova civilização. A atual já produziu seus frutos, já se exauriu e, como nos ciclos biológicos, produz a semente do futuro, da perpetuidade, da continuação para o infinito. Ora, quando falamos em civilização, estamos falando das conquistas, da média evolutiva que está contida nos indivíduos, no espírito que compõe a humanidade. As coisas, as conquistas da civilização não existem por si, mas, sim, nos espíritos. Lembra do Mestre Jesus, quando disse que não acumulássemos tesouros na Terra, porque são perecíveis? Pois bem, se a civilização está nos indivíduos, nos espíritos, ela está tanto aqui, na face da Terra, como está nos outros lugares onde haja espíritos, certo? E se os espíritos são os portadores da civilização, eles também são portadores de tudo que ela contém, das coisas que conceituamos como boas ou julgamos que sejam más.
- Mas, Neiva, – aparteei – se isso acontece assim, então não haveria progresso, não haveria evolução. Se os espíritos vão e vêm, encarnam e desencarnam, e são, sempre, portadores das mesmas coisas, isso não faz muito sentido.
- Calma, Mário. Você já se esqueceu das coisas que conhece do mundo espiritual? Ao passarem pelos planos astrais, mentais e etéricos, os espíritos aprendem, têm novas perspectivas, e vêem, com mais clareza, os problemas da sociedade. Isso tanto acontece no sentido individual – os espíritos se esclarecem sobre seus próprios problemas – como no sentido coletivo e social. É assim que eles trazem novas conquistas, novas formas civilizatórias. Faz-se necessário um esclarecimento: a civilização não se manifesta de maneira uniforme e ao mesmo tempo. Na Terra, o ciclo é composto de um princípio e um fim, e é por isso que nós podemos separar uma parte do infinito em termos de Segundo e Terceiro Milênios. Sempre a civilização se colocou assim, para dar oportunidade a espíritos em todos os graus evolutivos. Temos, assim, os grupos, as religiões, as famílias espirituais, as falanges, os países e as civilizações. Por isso falamos em civilização mediterrânea, civilização européia, civilização antiga, etc.
- Bem, Neiva, acho que começo a compreender. Estamos habituados a tomar por um todo o que nos é conhecido de imediato, e esquecemos daquilo que não ocupa o campo de nossa consciência.
- É mais ou menos assim, Mário, e é por isso que a gente confia na direção dos Mentores e Guias. Subentendemos que eles, tendo uma visão global, mais ampla, podem estabelecer as diretivas consoantes com o geral. Mas, voltemos à civilização. Os espíritos não são limitados pelas questões geográficas, como os encarnados. De acordo com seus planos e destinos, podem encarnar onde lhes for destinado ou se destinarem. Assim, nós podemos entender porque algumas civilizações progridem e outras estacionam, havendo, até mesmo, aquelas que regridem, em termos civilizatórios. Repare o caso de nosso País. Dizem que somos um País jovem e do futuro, e isso é, realmente, assim. Mas, por que?
- Sim, – perguntei – por que?
- Você vai estranhar um pouco a resposta, Mário. Nosso País é jovem porque está recebendo, em sua civilização, espíritos velhos!
- Essa, agora, foi forte, Neiva. Espíritos velhos?
- Sim, Mário, espíritos velhos, experientes, tarimbados, evoluídos, e que já vêm preparados para enfrentar o novo ciclo que se aproxima. Essa é a verdade, e não estranho o seu espanto. É difícil conceber que no Brasil, particularmente nas regiões mais novas, como é o Planalto Central, em que moramos, estejam nascendo, neste mesmo instante, espíritos veteranos de muitas eras civilizatórias.
- Bem, Neiva, até aí acho que posso entender. Mas, uma coisa me resta entender. Se esses espíritos são assim tarimbados, se trazem consigo a experiência de milhares de anos, por que este conflito todo? Por que este abismo entre as gerações, de que tanto se fala? Experientes como são, não teriam eles meios de evitar essa situação dolorosa?
- Mário, meu amigo, você já viu parto sem dor? Sim, existe, mas não o parto sem sofrimento, e assim é na civilização. É lógico que, se esses espíritos são os precursores de novas formas de vida, eles têm, necessariamente, de entrar em conflito com as velhas formas. Note-se, ainda, o fato de que eles são os primeiros, os pioneiros das idéias novas, mas que estão mergulhados num mundo de coisas velhas e superadas. Dentro de si eles trazem o mesmo conflito que se exterioriza na sociedade. Daí os choques e a ânsia de liberdade desses jovens. Se considerarmos que os mesmos espíritos, portadores da nova civilização, são relacionados com os outros, os não pioneiros, os que estão partindo e não chegando, compreenderemos melhor o conflito.
- Mas, Neiva, onde fica, nisso tudo, a questão cármica, a faixa de reajustes?
- Uma coisa não invalida a outra, Mário. O fato de uma pessoa ser militar, médico ou astronauta, não quer dizer que ele não seja, também, filho ou pai. Por isso, um espírito que venha para este planeta, com novas idéias, não significa que ele deixe de possuir sua família espiritual, seus cobradores e seus credores espirituais.
- Essa é uma idéia difícil de aceitar, Neiva. Custa-me crer que espíritos assim evoluídos produzam fatos como esse de Waltinho e outros semelhantes.
- Mário, por mais evoluído que seja um espírito, quando ele se submete às condições de encarnado passa a ser regido pelas leis que comandam este plano. Se meditar sobre isso, vai entender o porquê da vida de Jesus e de todos os líderes de todos os tempos. O ser encarnado age através de uma personalidade transitória, submetida às leis físicas e psíquicas do seu meio. Mas, seu espírito transcendental traz, em si, as coisas que pertencem a leis mais amplas, às leis do espírito. Note que esses jovens, quando encontram um equacionamento, quando sobrevivem aos fatos destrutivos, se realizam de  maneira extraordinária e feliz. Na verdade, nossos olhos estão sempre voltados para os jovens que estão no seu aspecto negativo. Por isso, seria bom que nos voltássemos para os mesmos jovens, no seu aspecto positivo. Você mesmo, Mário, viveu aquela experiência notável, quando aqueles jovens, em conflito com boa parte da sociedade, principalmente com seus pais, mostraram-se capazes de entender e viver a Lei do Amor e do Perdão do Cristo. Devemos é procurar ampliar as nossas perspectivas e ter tolerância, muita tolerância. Temos que considerar que esses espíritos estão chegando a um verdadeiro campo de batalha. Repare como estão crescendo e sendo educadas as nossas crianças, em meio a instituições que se desmoronam, da mesma forma que milhares de crianças estão sendo geradas e criadas no meio de guerras e destruição, como, hoje, na Indochina. Você acha que as outras, aquelas que não estão nas regiões atingidas pelas guerras, não são também afetadas?
- É lógico que são. – pensei eu – Quem, hoje, não é afetado, de uma forma ou de outra, pelo que se passa no mundo?
- Outro fato para o qual chamo sua atenção, Mário, é o que se refere aos espíritos que estão reencarnando nesta parte do mundo. Em sua maioria, são oriundos da Europa, e tiveram muito pouco tempo nos planos espirituais.  Todos eles desencarnaram em plena guerra. Entre nós existem, atualmente, milhares de alemães, americanos, russos, japoneses, judeus e todas as raças e povos que lutaram entre si.
- Devagar, Neiva. – pedi – Devagar, porque essa idéia traz implicações demais. Se esses espíritos participaram da última guerra mundial, quaisquer que sejam suas posições de civis ou militares, eles têm motivos de sobra para serem revoltados. Meus Deus! Posso imaginar o que será a mente de um jovem traz recordações inconscientes, mal apagadas pelo curto tempo de permanência no plano espiritual, de um conflito que, até hoje, é duvidoso nas suas perspectivas! É, Neiva, assim a gente é obrigado a lhes dar razão em muitas coisas.
- Somente em algumas, Mário, não em todas. Não se esqueça de que eles, nas suas variadas posições, sempre agiram obedecendo ao seu livre arbítrio. Foram bons ou maus, de acordo com suas próprias decisões. O que temos que considerar é o aspecto traumático, a recordação recente, que explica certas coisas, mas não as justifica. É lógico que, se tomarmos isso em conta, muda muito a nossa atitude em relação a eles. O conflito é maior porque o padrão de referência, na educação, ainda é o velho materialismo, pressupondo que o ser humano é inteiramente novo, “zero quilômetro”. Talvez esse padrão tenha servido em outras eras, mas, agora, está superado.
- Mas, por que, Neiva? Os seres humanos não são, sempre, seres humanos? Os que nasceram há um século não tinham, também, suas reservas de memória espiritual?
- Sim, o ser humano encarnado é basicamente o mesmo. As condições de encarnação é que mudaram. Não se esqueça de que a transição do Segundo para o Terceiro Milênio não é, somente, uma transição civilizatória, pois está havendo uma modificação de posição planetária na relatividade sideral. Fenômenos extraordinários estão acontecendo, como, aliás, já aconteceram em outras épocas, só sendo percebidos por alguns espíritos, conforme a área em que se manifestam. Na nossa área, o fenômeno mais extraordinário é o da mediunidade. Sim, as condições mediúnicas do planeta, há um século, eram bem diferentes das condições atuais. Em suas aulas, Mário, você afirma que a mediunidade é um fato físico, biológico. É verdade, e, dessa forma, ela tem que, necessariamente, ser afetada pelas alterações planetárias.
- Acho, Neiva, que, na verdade, o ser biológico está sendo muito pouco afetado pelas modificações que se operam. Se nos basearmos na Biologia, somos obrigados a reconhecer que as transformações se operam lentamente, em termos de milhões de anos.
- De acordo. Mas lembre-se de que falamos de mediunidade como um fato de base biológica, quer dizer, que tem suas raízes na organização sangüínea e no sistema nervoso. Suas manifestações são energias que ligam dois planos, um visível e um invisível, o plano do físico e o do espírito. Ora, se pensarmos em termos de dinâmica, as modificações psíquicas são muito mais rápidas que as do plano mais denso. É isso, aliás, que precisamos entender, se quisermos socorrer nossos irmãos, especialmente os jovens. Nas atuais condições físicas e espirituais, sua força mediúnica se manifesta muito mais cedo, e com mais intensidade, e esse é o fator determinante das suas atitudes. É essa energia que lhes permite a coragem e a independência com que se manifestam no mundo atual, independentemente de fatores morais ou intelectuais. É por isso que sabemos de movimentos jovens destrutivos, virulentos e absurdos. A força tanto age num sentido como em outro. O que é preciso, antes de tudo, é assumir posição realista diante desses problemas. Temos que, necessariamente, abandonar as formas complicadas de verificação, nos baseando nas formas simples, na observação do quotidiano, na observação de nós mesmos. O melhor laboratório que existe na Natureza é o nosso – eu, você, ele – e o segredo está na síntese das coisas, não nas complicadas análises. Observe o caso da educação escolar. Sabemos e verificamos todos os dias, que as crianças se comunicam com o meio-ambiente pela mediunidade. Com isso, elas entram em contato com outros planos, sem distinguir o que é concreto, isto é, matéria, e o que é abstrato, imaterial. Fala com espíritos, vê espíritos, brinca com espíritos, enfim, tem um relacionamento natural com os outros planos. Entretanto, só nos baseamos, na educação em casa e na escola, em premissas totalmente diferentes! Quando falo em simplicidade, em observação do quotidiano, é para que cada um de nós as observe por si mesmo, e não fique na dependência de complicadas análises do ser humano. Conviva com as crianças, e observe os fatos considerados estranhos que se passam com elas. Quase todo pai ou mãe julga que seu filho é excepcional, que faz coisas que as outras crianças não fazem, já observou?  Aparentemente, é vaidade paterna. Na realidade, são fatos observados e filtrados por padrões de referências tradicionais. Ah! Se os educadores admitissem o fato mediúnico, quantas dores não seriam poupadas a esta pobre humanidade!...
- Mas, afinal, Neiva, o que você acha que deveria ser feito nesse sentido? Nota-se que, ultimamente, há grande interesse nos assuntos espirituais, preconizando-se, mesmo, que as Ciências Espirituais irão predominar, em interesse, sobre a Ciência tradicional. Você acha que isso está acontecendo e é verdade?
- Não sei!... É difícil termos a perspectiva certa da guerra quando se está no campo de batalha. O que podemos fazer é estarmos preparados para o futuro e trabalhar no presente. Observe o que está acontecendo, e veja, com cuidado, os fenômenos que se apresentam pelos que vêm em busca do socorro espiritual. Compare os fatos com as profecias, quaisquer que sejam as formas como essas profecias se apresentam. Lembra quando nossos Mentores nos avisaram que os fenômenos cósmicos, as transformações da Terra, teriam maior intensidade em 1984 e, constantemente, eles nos falam no Terceiro Milênio e mencionam esse ano? Pois bem, Mário. Observe nos jornais, revistas e livros como essa data é mencionada com insistência, quando se referem a fatos futuros. Existe até um livro de ficção científica com essa data como título. Acrescente a isso as constantes referências a fenômenos meteorológicos fora do comum, fatos estranhos em psiquismo, mensagens aparentemente absurdas, a eternidade dos conflitos bélicos, as constantes violências, enfim, toda a gama de fatos e ocorrências que indicam anormalidade. Repare, também, como as mensagens dos Evangelhos vão se tornando reais, de como sua autenticidade salta aos nossos olhos com facilidade. Tudo isso gera, espontaneamente, o interesse humano para as coisas espirituais ou, como você diz, para as Ciências Espirituais. Quanto ao que fazer, Mário, é problema essencialmente individual. Cada ser recebe os estímulos à sua vivência de acordo com sua programação cármica e missionária. Seu problema é ser coerente com isso. A maior parte da angústia individual não reside na situação da humanidade e, sim, na sua posição em relação a isso. No meio do maior conflito, o Homem pode ser feliz e tranqüilo, desde que esteja coerente com o seu próprio destino. Para isso, é necessário, apenas, que ele ouça a voz íntima da própria consciência e aja de acordo com ela. Buscar a solução numa religião ou filosofia, como quem compra uma roupa feita, já é uma atitude fora de moda. Todo Homem tem que encontrar a sua religião, sua doutrina ou sua filosofia. Se ela coincidir com a de outros, tanto melhor. Esse problema é simples, mas fundamental. Todos somos ligados a famílias espirituais, no seio das quais convivemos milênios. Nosso problema é encontrar, na presente situação, a nossa família e trabalhar junto com nossos irmãos. Quanto aos jovens de hoje, a afirmação é tranqüila. Eles são os precursores do Terceiro Milênio. Sejam bons ou maus, estão sempre à procura de algo que ainda não se definiu. Não vamos condená-los por isso. Nós somos da geração do Segundo Milênio, da Era do Amor, da Humildade e da Tolerância, e nos compete agir de acordo com essas premissas. Eles são os pilotos que vão decolar para o futuro. Nós somos os construtores, os mecânicos, os meteorologistas, e construímos os campos para a decolagem deles. Do acerto de nosso trabalho depende o sucesso da missão deles.
- Neiva, essas palavras: Amor, Humildade e Tolerância, sintetizam toda a Doutrina de Jesus. Será que ela não serve para eles?
- Serve, Mário, enquanto eles estão na tônica deste milênio, na emanação de produtos do meio. Mas, ao mesmo tempo em que ouvem a Doutrina de Jesus, eles vêem uma realidade disforme, que não corresponde a isso. Procure compreender, e se colocar no lugar deles. Sabemos que a Doutrina seria incoerente se o mundo não fosse como é. A Doutrina do Cristo, tomada no seu sentido universal, se aplica à humanidade enferma e visa sua saúde. Aplica-se à humanidade como ela é, são qualidades preconizadas para certos defeitos. Subtende-se que essas enfermidades já não existirão no Terceiro Milênio, sendo substituídas por outros obstáculos evolutivos, o que exigirá outras formas de comportamento. Na Espiritualidade se diz que as siglas para o Terceiro Milênio serão: Deus, Paz e Fraternidade. Observe essas três palavras, e veja como elas são coerentes, como complementação, etapa seguinte das atuais. A Humildade nos leva à sabedoria, ao conhecimento, a sentir Deus. Teremos, então, não um Deus abstrato e antropomórfico, mas um Deus real, visível, mais palpável. O Amor nos leva à tônica da Paz, da tranqüilidade ativa. E a Tolerância nos leva à Fraternidade, a viver bem com nossos irmãos. Creio que isso dá para entender o futuro. Essa civilização se exaure pelo término de uma tarefa crística. Os espíritos que alcançarão a próxima etapa evolutiva vão viver de acordo com ela. Os que não conseguirem, serão atraídos, por afinidade, para as etapas onde ainda permanecem. Cada um terá a oportunidade, de acordo com seu padrão vibratório. Quanto ao planeta físico, ele ganhará uma espécie de promoção, o direito de ter em seu seio espíritos em harmonia com sua situação cósmica. Se o eixo da Terra se endireitar, como parece que vai acontecer, teremos um regime climático diferente, muito mais regular. Talvez, então, o planeta corresponda ao paraíso bíblico e a vivência seja mais fácil, de modo a facilitar a existência de Deus, Paz e Fraternidade! O que se vê, na juventude de hoje, é, justamente, a busca desse paraíso. Por enquanto, o fazem na base deformada das drogas, fugas das normas sociais, na licenciosidade. Em pouco, o farão na base de rotas mais seguras. Sejamos pacientes!...
Eu acabava de registrar esse longo diálogo com a Clarividente, a missionária de olhos infinitos, e quedei-me a pensar. Rostos jovens e sorridentes passavam pela minha memória. Lembrei-me de seus gestos, de seus olhos às vezes tristes, da ternura com que os via se abraçarem, da solidão em que viviam, e meu coração se apertou.
Lembrei-me de meus próprios filhos, soltos no mundo, distantes de mim, e senti imenso amor por todos eles. Arrependi-me dos meus momentos de intolerância às suas músicas estridentes, seus trajes bizarros, seus colares coloridos, suas pretensões intelectuais, sua linguagem abusada, sua irreverência às nossas autoridades e aos nossos sistemas políticos, e desejei que eles continuassem nos visitando, aqui no Vale do Amanhecer. Graças a Deus, eles voltaram várias vezes, e aqui estaríamos nós, os missionários do Segundo Milênio, preparando-lhes o caminho para o Terceiro Milênio!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

APONTAMENTO




APONTAMENTO
Neio Lúcio
Francisco Cândido Xavier

Manifestaste indisfarçável aborrecimento, ante as observações paternas que te contrariaram os propósitos impensados.
Ontem abusaste da alimentação, hoje pretendias uma excursão inconveniente.
Referiu-se teu pai às necessidades do espírito com acentuada tristeza; todavia, longe de lhe entenderes a nobreza do gesto, buscaste, intempestivo, os braços maternos, na ânsia incontida de aprovação aos teus caprichos juvenis.

Foste, porém, injusto.

O jovem que recusa a orientação acertada dos mais velhos que lhe desejam o bem, procede qual lavrador leviano que reprova a boa semente.
Estimas as longas incursões no pomar, quando as laranjeiras se cobrem de frutos e quando a parreira deita uvas doces.
Acreditas , no entanto, que as árvores excelentes teriam crescido sem cuidado? Admites que a vinha não necessitou de amparo em pequena?
Todas as plantas, mormente as mais tenras, sofrem insistentes perseguições de detritos e vermes. Sem carinhosas mãos que as protejam, ser-lhes-ia impraticável o desenvolvimento e a frutificação; muitos dias de vigilância requerem do pomicultor antes de nos atenderem na chácara.

Ignoras que o mesmo acontece no campo do coração?

As más experiências de uma criança acompanham-na a vida inteira.
Diz o provérbio: "Com o tempo, a folha da amoreira converte-se em veludoso cetim"; mas não podemos esquecer que também com o tempo as águas desamparadas e esquecidas se transformam em pântano.
Não te revoltes contra a sementeira de reflexão e bondade que o carinho paterno realiza em teu espírito.
Sobretudo, não te impressiones com a fantasiosa opinião de colegas de rua. O tempo dará corpo aos princípios inferiores ou superiores que abraçares e, enquanto o companheiro estranho ao teu lar pode ser o amigo de alguns dias, o papai ser-te-á o amigo e benfeitor de muitos anos.

(Do livro "Alvorada Cristã", pelo Espírito Neio Lúcio, Francisco Cândido Xavier)

domingo, 28 de novembro de 2010

NOVO RUMO PARA A MINHA JORNADA




NOVO RUMO PARA A MINHA JORNADA – JUNHO-1960

Ó, Jesus! Alguma coisa parecia estar me impulsionando para que sentisse o desejo de assumir um lugar diferente daquele que ocupava. Era um novo rumo para a minha jornada.

Estava cansada... Como?... Teria, então, mais e mais –  todo aquele acervo era pouco!

Eu, o burrinho, estava leve. Seria isso então?

Até aquele momento eu era alguém de difícil entendimento para com os outros e para comigo mesma.

Cansada, dormi debaixo de um pequizeiro.

Me transportei até o Tibete e, como sempre, fui ter com Humarram. Estava frente a ele, não tinha dúvidas.

- Oh, meu querido Mestre!... Não sei se devo te chamar assim...

- Sim, minha pequena Natacha. Porém, antes, deves entregar teus olhos a Deus!

Levei os olhos para uma pequena janela onde se via a luz do sol de uma tarde, e disse:

- Jesus, arranque os meus olhos se tudo for mentira... – e continuei com meus mestre: - Tens uma vida simples e dolorosa. Se fosse eu, não suportaria!...

- E como! Dolorosa, porém embebida de lágrimas santificantes, do dever, da vida em luta, de renúncia sublime! Natacha, no mais íntimo do ser humano, que é o PLEXO, existem ENERGIAS LATENTES, forças poderosas que não são exploradas senão excepcionalmente. Com a intervenção destas forças podem ser curadas as doenças do corpo e do caráter, digo, doenças físicas e morais.

- Que movimento misterioso, que me surpreende!...

- Tudo deve ser silenciosamente, pelos movimentos psíquicos de cada faculdade mediúnica. Esta, uma vez desenvolvida, nos permite modificar nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a matéria e até vencer a morte, Natacha!

- Me chame Neiva! – disse eu – Gosto do meu nome...

- O princípio superior de todos os missionários é o trabalho. Sua ação será comparada a um imã. Terás que viver atraindo novos recursos vitais. Terás, também, o segredo da evolução, das transformações de vidas cujo princípio não está na matéria mas, sim, na própria vontade. Esta ação se estende tanto no mundo etérico como no físico – matéria! Tudo, filha, pode ser realizado no domínio psíquico, pelo amor, na ação da vontade, na Lei do Auxílio, princípio superior de todas as coisas. A potência da vontade de quem busca, honestamente, servir aos seus irmãos, não tem limites. E quando dormimos, cansados, pensando com amor servir alguém, nós nos transportamos e saímos pelos planos espirituais, em seu socorro. A Natureza inteira produz fenômenos, metamorfoses. Quando conheceres a extensão deste fenômeno, seus recursos dentro de ti mesma, deixarás o mundo deslumbrado...

- Meus caminhos! Minha liberdade!... – disse eu quase chorando.

- Neiva, o que chamas de liberdade, se existe em ti a mais poderosa fonte de energia, que pode arrebentar as mais fortes cadeias dos domínios psíquicos?

Segurou meus braços e uma sensação de força se introduziu em todos os meus movimentos. Senti-me forte e preparada para o combate. Com a cabeça um pouco dolorida, voltei novamente à luta na busca pela sobrevivência. Despertei com alguém que dizia:

- Neiva, tem aí um colega querendo te ver. Diz se chamar Guido.

- Ó, meu Deus! – Gemi, e tudo que saía de minha cabeça, do meu cérebro, tinha um tumulto diferente, de pensamentos desiguais.

TIA NEIVA

ADOLESCENTE, MAS DE PASSAGEM (7)




O PESO DA TRADIÇÃO E DOS COSTUMES


Quando reencarnamos nesta esfera existencial, a bem dizer, já
encontramos o “circo” armado. Caberá a cada um de nós
readaptar-se ao mundo material procurando assumir e
desempenhar bem o seu papel. Gostemos ou não, concordemos
ou não, deveremos seguir uma moral dominante, com suas
peculiaridades. Essa moral nos é passada pela família e pela
escola, principalmente. Muita coisa não poderá ser
simplesmente contestada; poderemos até não assumir totalmente
as regras e convenções sociais, mas não nos jogarmos contra
elas, pois isso implicaria assumir uma conduta anti-social,
atraindo sobre nós os mecanismos de repressão, dos quais os
dois mais importantes são chamados de ideologia e aparato
policial. Se o primeiro não funciona para nos enquadrar no
sistema, o segundo é acionado e aí não é possível resistir sem
prejuízo de nossa liberdade e mesmo integridade física.
Apesar de nem sempre corretas, as regras e convenções sociais
existem para estabilizar a convivência social. Mal com elas, pior
sem elas. Por isso as mudanças na maneira de pensar e agir da
sociedade são lentas. O próprio instinto de conservação a faz
agir como se fosse um ser único, que teme mudanças pois elas
significam sair do imobilismo e enfrentar o novo, o
desconhecido. Por isso a tradição e os costumes têm um peso
considerável sobre o presente. No entanto, o progresso é uma
lei que atinge a tudo e a todos e, no que diz respeito à
sociedade, surge na forma de novas invenções que alteram o
comportamento geral – a informática, por exemplo - e na forma
de idéias que vão se imiscuindo no dia-a-dia das pessoas e
alterando o seu pensar e, conseqüentemente, o seu agir. Já
reparou como que o conceito espírita de reencarnação caiu no
domínio público e mesmo quando não é usado adequadamente é
uma saída pela tangente para alguns e explicação provisória para
outros? É o fermento levedando a massa.
Recentemente houve um fato histórico que alterou
profundamente a vida social: a II Guerra Mundial. Se seus
danos no campo material foram extremamente altos, não foram
menores no campo do pensamento, na forma de encarar a
realidade e a própria vida. A tradição e os costumes foram
postos em cheque, pois se não foram capazes de evitar um
conflito armado de tão grandes proporções é porque não são
bons. Assim pensavam os jovens que perderam seus pais na
guerra, as esposas que perderam seus maridos e as mães que
ficaram sem seus filhos. Isso explica porque a geração dos anos
50 e 60 foram tão contestadoras. Nesse contexto de checagem
dos costumes, também as religiões tradicionais foram
reavaliadas e como não puderam dar respostas continuaram em
declínio. Aí vemos os jovens dos anos 60 buscando um novo
estilo de vida, inspirando-se nas crenças orientais para se
relacionarem com a divindade; quebrando tabus ligados ao sexo
e criando as comunidades alternativas. Nada disso deu o
resultado esperado e a crise existencial coletiva apenas se
aprofundou deixando-nos a perplexidade como herança cultural,
com a qual os jovens de hoje ainda se debatem.
Isso explica porque a juventude passou a usar a droga, o fumo,
as bebidas alcoólicas, a delinqüência e o sexo como válvula de
escape para suas angústias. Nos anos 60 e 70, na América
Latina, a onda de golpes de Estado agravou ainda mais a
situação, pois gerou a alienação política e a defasagem cultural,
hoje motivo de tantas preocupações, pois nas mãos de quem
estarão esses países na entrada do século XXI? Estamos de
certa forma correndo atrás do prejuízo.
Por esses e outros motivos, a juventude se vê às voltas com uma
série de dificuldades que vão dos vícios socialmente aceitos,
como alcoolismo e tabagismo, até a vida sem objetivos e
conduta francamente anti-social. As drogas tornaram-se um
problema grave e até agora sem solução eficaz. A sociedade
atual mergulha no caos, devido a ausência de novos valores
estáveis, aprofundando a crise que é eminentemente de natureza
sócio-moral.
No curto prazo é preciso buscar uma solução para o crescente
consumo de drogas. Parece que a informação é um dos recursos
mais eficazes para se alcançar esse objetivo. Podemos dizer que
para todos os tipos de problemas a informação correta é útil. Os
jovens principalmente, devem informar-se sobre as drogas e
seus efeitos sobre o corpo e a mente, além de aprenderem a
dizer não quando lhes forem oferecidas. Criar o círculo vicioso
da droga é fácil, sair é que se torna difícil. Não há dúvida que o
efeito psicológico da droga é bom e é por isso que surge o vício.
O problema é que não resolve nossas angústias e seus efeitos
são passageiros, degrada a criatura, levando-a à exclusão social,
quando não a doenças graves de difícil recuperação, à morte ou
ao suicídio.
O homem, na verdade, usa drogas há milhares de anos, com
finalidades rituais e para estabelecer um contato maior com o
Mundo Espiritual, através de uma mediunidade passageira e
artificial, além de perigosa. Hoje, o uso de drogas tem outra
finalidade. Visa anestesiar a consciência, propiciar a fuga da
realidade e aos deveres. É um precipício à beira do qual vivem
milhões de criaturas humanas, ricos e pobres, cultos ou
iletrados. É um mal que alcançou todas as classes sociais e cada
vez atinge faixas etárias mais baixas.
É oportuno estabelecer a diferença entre hábito e vício para que
a compreensão do assunto se faça mais clara. Normalmente o
hábito é entendido como dependência psicológica e o vício
como dependência física. Todo vício já foi hábito. Uma coisa
conduz à outra. Flávio Gikovate, médico e psicoterapeuta a
quem já nos referimos em capítulo anterior, aponta aspectos
importantes sobre os efeitos das substâncias tóxicas mais
consumidas, os quais passamos a transcrever para maior
informação do leitor. Quanto ao álcool diz o seguinte: “Em
pequenas doses ele é discretamente euforizante para a maioria
das pessoas; se as doses aumentam, aumenta a moleza, a
tontura, e começa a vir uma grande sonolência. Um pequeno
grupo de pessoas, talvez dez a quinze por cento, tem uma
reação diferente: a partir da terceira dose de uma bebida forte
ficam eufóricas, muito excitadas e com disposição redobrada
(...). Aí a pessoa não é mais capaz de parar de beber; irá beber
horas a fio, até não agüentar mais, até cair, já perto do coma
alcoólico - estado de inconsciência que deriva da overdose de
álcool”. Segundo ele nos informa, o álcool produz dependência
psicológica após 2 a 5 anos de uso, e dependência física após
mais ou menos 15 ou 20 anos.
Quanto à maconha, é um assunto mais grave, pois é a droga
mais usada pelos adolescentes. “Seu efeito é, para a maioria das
pessoas, relaxante. A pessoa ri à toa, o cérebro não fica muito
esperto - às vezes ocorre o contrário: surgem idéias variadas,
rápidas e muito inteligentes - e ela se sente totalmente liberta
das responsabilidades. Talvez por isso a maconha tenha sido tão
bem-sucedida nos anos 60, quando a juventude
superconservadora tentava se adaptar aos novos padrões, à
liberdade sexual. (...). A memória fica muito prejudicada. A
pessoa não lembra o que pensou no instante anterior. Mesmo se
tem idéias geniais, elas “evaporam” com enorme rapidez”.
Provoca também perda de concentração, de atenção, sensação
de perda de controle interior, o pensamento se acelera e existem
registros de surtos de loucura sob o efeito da maconha.
A cocaína é cheirada na forma de pó ou injetada diretamente na
veia. “(...) tem um efeito fugaz. A excitação, a sensação de que
se é um gênio, com cérebro claro e brilhante - o que só a pessoa
acha, pois quem convive com ela vê apenas uma pessoa inquieta
e angustiada -, dura de 30 a 40 minutos e logo vem uma
tendência para a depressão. (...). O uso regular dessa droga
ainda é muito recente. Podemos, contudo, prever danos físicos
parecidos com os ligados ao uso da dexedrina: desgaste
prematuro do organismo e depressões graves, às vezes seguidas
de suicídio”.
“O crack é um derivado novo da cocaína, mais barato e
parecido em tudo com ela. É uma pasta branca, que se fuma em
um cachimbo pequeno - similar aos usados nos anos 60 para a
maconha -, e parece ser do agrado dos jovens. Provoca uma
tendência para a violência; libera a agressividade dos jovens, o
que não é nada bem-vindo. Até o momento, o crack está
claramente associado a grupos de delinqüentes, a gangues de
jovens que, depois de fumá-lo, saem para assaltar, estuprar,
atirar a esmo etc.” O autor alerta para os desastrosos efeitos
sobre os aspectos humano, afetivo e social dos toxicômanos. A
começar por se tornarem insuportáveis. Seu convívio só pode
ser tolerado por outro viciado. Como ele diz, o indivíduo tornase
um chato, no mais completo sentido da palavra, incapaz de
autocrítica. Toma atitudes ridículas e acha que está “abafando”.
Pelo que foi visto, a sociedade precisa de mudanças. Desde os
vícios socialmente aceitos e nem por isso menos danosos, até as
drogas usadas como processo de fuga de uma realidade que se
rejeita ou que simplesmente não se suporta, denotam uma
profunda carência de valores que ajudem a dar vazão às
angústias existenciais. Convém lembrar que ninguém vive sem
problemas. Precisamos aprender a lidar com eles, com o
sofrimento. Essas coisas estão entre os objetivos da vida. Até
uma certa dose de ansiedade é necessária para que prossigamos
na existência. A ansiedade em níveis toleráveis equivale a uma
mola propulsora que nos empurra para frente; nesse caso é
sinônimo de expectativa. Passa a ser um problema quando afeta
nosso modo de sentir e pensar e a interferir negativamente em
nossa capacidade de avaliar situações.
Que o leitor nos permita relembrar aqui que a vida não é uma
festa, e que a reencarnação na Terra não é feita com o objetivo
de fazermos algum tipo de turismo. Se o fosse, convenhamos, a
escolha demonstra um grande mau gosto. Nossa passagem pela
Terra visa, em termos genéricos, a reparação de erros do
passado (e não exatamente punição), a educação espiritual, a
aquisição de novas virtudes e a consolidação daquelas que já
tivermos obtido. Em suma, o fortalecimento dos dois aspectos
indispensáveis à nossa evolução: o desenvolvimento da
inteligência e dos princípios morais. Para atingirmos esses
objetivos, muitas vezes é necessário destruir valores antigos,
superar as inibições produzidas por costumes e tradições
obsoletos, que cumpriram seu papel na evolução social e que
hoje esgotaram-se. Destruir o velho é o preço que pagamos pela
obtenção do novo. A construção de uma nova sociedade exigirá
de cada um a superação dos condicionamentos individuais, das
limitações e imperfeições próprias de nossa posição evolutiva, e
a criação de novos valores sociais que venham a constituir uma
nova superestrutura, um novo campo de idéias. Isso já está
ocorrendo; é só observar em volta e veremos as preocupações
em torno do fim das guerras, como forma de resolver diferenças
entre as nações; as propostas em torno da estabilidade da vida
na Terra, isto é, a ecologia tornou-se uma questão política; e as
preocupações acerca do respeito aos direitos e garantias
individuais, com o fim do arbítrio, da repressão, das
intransigências devido a diferenças raciais, culturais, lingüísticas,
políticas etc. No crepúsculo do segundo milênio podemos ficar
otimistas, pois essa civilização dita cristã será substituída por
uma melhor, não há dúvida. É uma mera questão de tempo até
que as novas estruturas sociais se definam e cristalizem, de
modo a sustentar uma nova ordem política, econômica,
religiosa, científica e cultural.