História de um “Transporte”
Diante dos fenômenos espirituais, a vida mediúnica se
torna mais intensa, e, nesse ambiente de expectativas vivíamos adormecidos e
encantados com as visões e os transportes, que sempre aconteciam.
Particularmente, estava passando por experiências
amargas. A dor agia como uma sombra em minha consciência, ofuscando os meus
bons pensamentos. Sentia-me ocioso e irresponsável com meus compromissos
espirituais.
Naquela noite cheguei muito cansado de uma visita que
fizera a uns amigos que conhecera. Era uma bela noite de sábado; estava muito
envolvido com uma namorada e a convite dela aceitei visitá-los. Conscientemente
abandonei minhas obrigações espirituais sem dar muito valor; não vacilei em ir,
desprezando o compromisso assumido anteriormente.
Retornei amargurado, pois não tinha me satisfeito
naquele programa e inclusive sem êxito nos meus propósitos de conquistá-la
definitivamente. A angústia invadiu minha alma sem que pudesse imunizar-me
contra ela. Nessa noite, ainda após a visita discutimos e nos ferimos com
palavras que não gostamos de ouvir um do outro.
Revoltado com as decepções daquela noite busquei o sono
como forma de alívio. Deitei e comecei analisar aquele momento tão difícil que
estava atravessando. Passava por minha mente pensamentos em desarmonia.
Questionava o porquê de minha irrealização sentimental e considerava que aquilo
não era justo. Eu era realmente um fracasso tanto em minha vida amorosa como na
minha vida espiritual; não correspondia às expectativas dos mentores e disso eu
tinha certeza.
Foi nesse estado confuso e desequilibrado que comecei a
sentir uma sonolência. Adormeci, mas, na verdade, estava em transe.
Transportei-me a um grande salão e percebi que era esperado. Fiquei parado
diante daquele quadro que se mostrava aos meus olhos. Observei de longe um
homem que me chamava mentalmente e comecei a caminhar em sua direção. Na
proporção que me aproximava, mais nítido aquele quadro se tornava e senti que a
luz que havia naquele quadro me cegava os olhos.
Era o Pai Seta Branca, em Cristo Jesus, que esperava
por mim. Sim o Simiromba de Deus estava ali!
Não resisti e caí de joelhos com as mãos nos olhos,
chorando copiosamente. Pensava na veracidade daquele quadro e não me sentia
digno de estar ali diante de tanta luz, principalmente por estar vivendo um
momento de desequilíbrio e muita confusão.
Entretanto aquele quadro era real e eu sabia disso.
Sentado à minha frente, num trono, estava o governante espiritual do nosso
país: o Pai Seta Branca.
Estava numa espécie de altar, que ficava alguns degraus
acima de onde me encontrava e empunhava na mão direita sua famosa lança branca.
Chamava-me atenção suas vestes, devido à luz que emanavam. Seu espírito reluzia
como o sol; seu penacho emitia raios de luz que saíam de suas penas; dos lados
direito e esquerdo haviam cavaleiros vestidos com grandes capas verdes,
segurando uma lança em uma das mãos. Tinham capacetes dourados e estavam ali
como guardiões de um rei. Então, o Pai, dirigindo-se a mim começou:
- Levanta-te meu filho e abre teus olhos.
Eu assim o fiz. Ele continuou:
- Filho querido, não deveis vos preocupar com suas
realizações espirituais. Atravessais uma faixa cármica difícil e deveis ter
paciência para vencê-la. Será difícil, mas tem perseverança e alivia tua dor.
Aquelas palavras soavam em minha alma como hinos de
harmonia. Eu estava sofrendo as heranças do meu passado nos reajustes da lei de
causa e efeito. E seguiu dizendo:
- Sabemos e somos conscientes da faixa em que vives,
portanto não vos preocupe. Cada um realiza de acordo com suas possibilidades
nas condições em que vive. Sabemos, filho querido, o que podes dar.
Eu permaneci estático; fixo. Não tinha palavras para
definir aquele momento e nenhuma reação tinha, eu, a capacidade de esboçar. Era
maravilhoso o que estava acontecendo e ele sabia o que eu sentia naquele
momento.
- Tens, filho querido, uma missão junto a Jesus;
assumistes um compromisso e deveis cumprir com amor o sacerdócio que te foi
confiado. Jesus vos abençoe.
Aquela visão se desfez. Quando dei por mim, estava com
dificuldades respiratórias, mas, aos poucos, fui tomando consciência de onde
estava e tudo foi se normalizando. Fiquei imaginando aquele quadro que a dor
fizera se materializar em minha mente e chorei agradecendo aquela oportunidade
que Deus me concedera. Aquele transporte havia aliviado por completo minhas
dores e me sentia totalmente renovado, como se na verdade não estivesse
sofrendo, passando por tudo aquilo.
Sim, ninguém que sofre e chora está sozinho. Há sempre
uma luz a velar por seu coração sofrido, a enxugar suas lágrimas e balsamizar o
seu corpo, suas dores...
Eu amargava os excessos do velho senhor de engenho do
Angical. A era da escravidão. Naquele momento estava adentrando naquela faixa
cármica que prenunciava momentos dolorosos de expiação e provas. Aquela
manifestação do Pai Seta Branca era uma benção àquele novo caminho, cujo
desfecho seria incerto. Mas depois conto essa história. Agradeci Deus pai todo
poderoso e adormeci renovado em energias, com grandes esperanças no
amanhã que se aproximava.
muito emocionante
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