quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O LIVRO DE DOM HELDER CÂMARA




O LIVRO DE DOM HELDER CÂMARA


Dom Helder Câmara (espírito) em Psicografia Recente

Recentemente foi lançado no mercado cultural um livro mediúnico trazendo as reflexões de um padre depois da morte, atribuído, justamente, ao Espírito Dom Helder Camara, bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife, desencarnado no dia 28 de  agosto de 1999 em Recife, Pernambuco.

O livro psicografado pelo médium Carlos Pereira, da Sociedade  Espírita Ermance Dufaux, de Belo Horizonte, causou muita surpresa no  meio espírita e grande polêmica entre os católicos.

O que causou mais espanto entre todos foi a participação de Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo, que durante nove anos foi secretário  de Dom Helder Câmara, para a relação ecumênica com as igrejas  cristãs e as outras religiões.
Marcelo Barros secretariou Dom Helder Câmara no período de 1966 a 1975 e tem 30 livros  publicados.

Ao prefaciar o livro Novas Utopias, do Espírito Dom Helder, reconhecendo a autenticidade do comunicante, pela originalidade de suas idéias e, também, pela linguagem, é como se a Igreja Católica viesse a público reconhecer o erro no qual incorreu muitas vezes, ao negar a veracidade do fenômeno da comunicação entre vivos e mortos, e desse ao livro de Carlos Pereira, toda a fé necessária como o Imprimatur do Vaticano.
É importante destacar,ainda, que os direitos autorais do livro foram divididos em partes iguais, na doação feita pelo médium, à Sociedade EspíritaErmance Dufaux e ao Instituto Dom Helder Câmara, de Recife, o que,aliás, foi aceito pela instituição católica, sem nenhum  constrangimento.

No prefácio do livro aparece também o aval do filósofo e  teólogo Inácio Strieder e a opinião favorável da
historiadora e pesquisadora Jordana Gonçalves Leão, ambos ligados a Igreja Católica.
Conforme eles mesmos disseram, essa obra talvez não seja uma produção direcionada aos espíritas, que já
convivem com o fenômeno da comunicação, desde a codificação do Espiritismo; mas, para uma grandiosa parcela da população dentro da militância católica, que é chamada a conhecer a verdade  espiritual, porque "os tempos são chegados"; estes ensinamentos  pertencem à natureza e, conseqüentemente, a todos os filhos de
Deus.

A verdade espiritual não é propriedade dos espíritas ou de  outros que professam estes ensinamentos e, talvez, porque, tenha chegado  o momento da Igreja Católica admitir, publicamente, a existência espiritual, a vida depois da morte e a comunicação entre os dois mundos.

Na entrevista com Dom Helder Câmara, realizada pelos editores, o Espírito comunicante respondeu as seguintes perguntas sobre a vida espiritual:

Dom Helder, mesmo na vida espiritual, o senhor se sente um padre?

Não poderia deixar de me sentir padre, porque minha alma, mesmo antes de voltar, já se sentia padre. Ao deixar a existência no corpo  físico, continuo como padre porque penso e ajo como padre.
Minha convicção à Igreja Católica permanece a mesma, ampliada, é claro, com os ensinamentos que aqui recebo, mas continuo firme junto aos meus irmãos de Clero a contribuir, naquilo que me seja possível,para o bem da humanidade.

Do outro lado da vida o senhor tem alguma facilidade a mais para
realizar seu trabalho exprimir seu pensamento, ou ainda encontra muitas barreiras com o preconceito religioso?

Encontramos muitas barreiras. As pessoas que estão do lado de cá  reproduzem o que existe na Terra. Os mesmos agrupamentos que se formam aqui se reproduzem na Terra. Nós temos as mesmas dificuldades de
relacionamento, porque os pensamentos continuam firmados, cristalizados  em determinados pontos que não levam a nada.

Mas, a grande diferença é que por estarmos com a vestimenta do espírito, tendo uma consciência mais ampliada das coisas podemos dirigir os nossos pensamentos de outra maneira e assim influenciar aqueles que estão na Terra e que vibram na mesma sintonia.

Como o senhor está auxiliando nossa sociedade na condição de
desencarnado?

Do mesmo jeito. Nós temos as mesmas preocupações com aqueles que  passam fome, que estão nos hospitais, que são injustiçados pelo sistema que subtrai liberdades, enriquece a poucos e colocam na pobreza e na miséria muitos; todos aqueles desvalidos pela sorte. Nós juntamos a todos que pensam semelhantemente a nós, em tarefas enobrecedoras, tentando colaborar para o melhoramento da humanidade.

Como é sua rotina de trabalho?

A minha rotina de trabalho é, mais ou menos, a mesma. Levanto-me, porque aqui também se descansa um pouco, e vamos desenvolver atividades para as quais nos colocamos à disposição. Há grupos  que trabalham e que são organizados para o meio católico, para  aqueles que precisam de alguma colaboração. Dividimo-nos em grupos e me enquadro em algumas atividades que faço com muito prazer.

Qual foi a sua maior tristeza depois de desencarnado? E qual foi a sua
maior alegria?

Eu já tinha a convicção de que estaria no seio do Senhor e que  não deixaria de existir.
Poder reencontrar os amigos, os parentes, aqueles aos quais devotamos o  máximo de  nosso apreço e consideração e continuar a trabalhar, é uma  grande alegria. A alegria do trabalho para o Nosso Senhor Jesus Cristo.

O senhor, depois de desencarnado, tem estado com freqüência nos
Centros Espíritas?

Não. Os lugares mais comuns que visito no plano físico são os  hospitais; as casas de saúde; são lugares onde o sofrimento humano se faz presente. Naturalmente vou à igreja, a conventos, a  seminários, reencontro com amigos, principalmente em sonhos, mas  minha permanência mais freqüente não é na casa espírita.

O senhor já era reencarnacionista antes de morrer?

Nunca fui reencarnacionista, diga-se de passagem. Não tenho sobre  este ponto um trabalho mais desenvolvido porque esse é um assunto  delicado, tanto é que o pontuei bem pouco no livro. O que posso dizer  é que Deus age conforme a sua sabedoria sobre as nossas vidas e que o  nosso grande objetivo é buscarmos a felicidade mediante a prática do amor. Se for preciso voltar a ter novas experiências, isso será  um processo natural.

Qual é o seu objetivo em escrever mediunicamente?

Mudar, ou pelo menos contribuir para mudar, a visão que as pessoas  têm da vida, para que elas percebam que continuamos a existir e que  essa nova visão possa mudar profundamente a nossa maneira de viver.
Qual foi a sensação com a experiência da escrita mediúnica?

Minha tentativa de adaptação a essa nova forma de escrever foi muito interessante, porque, de início, não sabia exatamente como me  adaptar ao médium para poder escrever. É necessário que haja uma aproximação muito grande entre o pensamento que nós temos com o pensamento do médium. É esse o grande  problema de todos nós porque o médium precisa expressar aquilo que estamos intuindo a ele.. No  início foi difícil, mas aos poucos começamos a criar uma mesma  forma de expressão e de pensamento, aí as coisas melhoraram.
Outros (médiuns) pelos quais tento me comunicar enfrentam problemas  semelhantes.

Foi uma surpresa saber que poderia se comunicar pela escrita
mediúnica?

Não. Porque eu já sabia que muitas pessoas portadoras da  mediunidade faziam isso. Eu apenas não me especializei, não  procurei mais detalhes, deixei isso para depois, quando houvesse tempo e  oportunidade.

Imaginamos que haja outros padres que também queiram escrever  mediunicamente, relatarem suas impressões da vida espiritual. Por que  Dom Helder é quem está escrevendo?

Porque eu pedi. Via-me com a necessidade de expressar aos meus irmãos  da Terra que a vida continua e que não paramos simplesmente quando  nos colocam dentro de um caixão e nos dizem "acabou-se". Eu já
pensava que continuaria a existir, sabia que haveria algo depois da vida  física. Falei isso muitas vezes. Então, senti a necessidade de me  expressar por um médium quando estivesse em condições e me fossem
dadas as possibilidades. É isto que eu estou fazendo.

Outros padres, então, querem escrever mediunicamente em nosso País ?

Sim. E não poucos. São muitos aqueles que querem usar a pena  mediúnica para poder expressar a sobrevivência após a vida  física. Não o fazem por puro preconceito de serem ridicularizados,  de não serem aceitos, e resguardam as suas sensibilidades espirituais  para não serem colocados numa situação de desconforto. Muitos  padres, cardeais até, sentem a proteção espiritual nas suas reflexões, nas suas prédicas, que acreditam ser o Espírito Santo, que na verdade são os irmãos que têm com eles algum tipo de apreço e colaboram nas suas atividades.

Como o senhor se sentiu em interação com o médium Carlos Pereira?

Muito à vontade, pois havia afinidade, e porque ele se colocou à disposição para o trabalho. No princípio foi difícil juntar-me a ele por conta de seus interesses e de seu trabalho. Quando acertamos a forma de atuar, foi muito fácil, até porque, num outro momento, ele começou a pesquisar sobre a minha última vida física.
Então ficou mais fácil transmitir-lhe as informações que fizeram o livro.

O senhor acredita que a Igreja Católica irá aceitar suas palavras  pela mediunidade?

Não tenho esta pretensão. Sabemos que tudo vai evoluir e que um dia, inevitavelmente, todos aceitarão a imortalidade com naturalidade, mas é demais imaginar que um livro possa revolucionar o pensamento da nossa Igreja. Acho que teremos críticas, veementes até, mas outros mais sensíveis admitirão as comunicações.
Este é o nosso propósito.

É verdade que o senhor já tinha alguns pensamentos espíritas  quando na vida física?

Eu não diria espírita; diria espiritualista, pois a nossa Igreja, por si só, já prega a sobrevivência após a morte. Logo,fazermos contato com o plano físico depois da morte seria uma conseqüência natural. Pensamentos espíritas não eram, porque não sou espírita. Sem nenhum tipo de constrangimento em ter negado  alguns pensamentos espíritas, digo que cheguei a ter, de vez em quando, experiências íntimas espirituais.

Igreja - Há as mesmas hierarquias no mundo espiritual?

Não exatamente, mas nós reconhecemos os nossos irmãos que tiveram responsabilidades maiores e que notoriamente tem um grau evolutivo moral muito grande. Seres do lado de cá se reconhecem  rapidamente pela sua hombridade, pela sua lucidez, pela sua moralidade.
Não quero dizer que na Terra isto não ocorra, mas do lado de cá  da vida isto é tudo mais transparente; nós captamos a realidade com mais intensidade. Autoridade aqui não se faz somente com um cargo  transitório que se teve na vida terrena, mas, sobretudo, pelo  avanço moral.

Qual seu pensamento sobre o papado na atualidade?

Muito controverso esse assunto. Estar na cadeira de Pedro, representando  o pensamento maior de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma  responsabilidade enorme para qualquer ser humano. Então fica muito fácil, para nós que estamos de fora, atribuirmos para quem está  ali sentado, algum tipo de consideração.
Não é fácil. Quem está ali tem inúmeras responsabilidades, não apenas materiais, mas descobri que as
espirituais ainda em maior grau. Eu posso ter uma visão ideológica de como poderia ser a organização da Igreja; defendi isso durante  minha vida.

Mas tenho que admitir, embora acredite nesta visão ideal da Santa Igreja, que as transformações pelas quais devemos passar merecem  cuidado, porque não podemos dar sobressaltos na evolução. QueiraDeus que o atual Papa Ratzinger (Bento XVI)  possa ter a lucidez necessária para poder conduzir a Igreja ao  destino que ela merece.

O senhor teria alguma sugestão a fazer para que a Igreja cumpra seu  papel?

Não preciso dizer mais nada. O que disse em vida física, reforço. Quero apenas dizer que quando estamos do lado de cá da vida, possuímos uma visão mais ampliada das coisas. Determinados  posicionamentos que tomamos, podem não estar em seu melhor momento de  implantação, principalmente por uma conjuntura de fatores que daqui  percebemos. Isto não quer dizer que não devamos ter como  referência os nossos principais ideais e, sempre que possível, colocá-los em prática.

Espíritas no futuro?

Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos a nossa Igreja, ou de outros que professam estes ensinamentos espirituais.
Portanto, mais cedo ou mais tarde, a nossa Igreja terá que admitir a existência espiritual, a vida depois da morte, a comunicação entre os dois mundos e todos os outros princípios que naturalmente decorrem da vida espiritual.

Quais são os nomes mais conhecidos da Igreja que estão cooperando
com o progresso do Brasil no mundo espiritual?

Enumerá-los seria uma injustiça, pois há base em todas as localidades. Então, dizer um nome ou outro seria uma referência pontual porque há muitos, que são poucos conhecidos, mas que desenvolvem do lado de cá da vida um trabalho fenomenal e nós nos engajamos nestas iniciativas de amor ao próximo.

Amor - Que mensagem o senhor daria especificamente aos católicos agora, depois da morte?

Que amem, amem muito, porque somente através do amor vai ser possível trazer um pouco mais de tranqüilidade à alma. Se nós não tentarmos amar do fundo dos nossos corações, tudo se transformará numa angústia profunda. O amor, conforme nos ensinou o Nosso Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora da humanidade.

Que mensagem o senhor deixaria para nós espíritas?

Que amem também, porque não há divisão entre espíritas e católicos ou qualquer outra crença no seio do Senhor. Não há. Essa divisão é feita por nós, não pelo Criador.
São aceitáveis porque demonstram diferenças de pontos de vista, no entanto, a convergência é única, aqui simbolizada pela prática do amor, pois devemos unir os nossos esforços.

Que mensagem o senhor deixaria para os religiosos de uma maneira geral?

Que amem. Não há outra mensagem senão a mensagem do amor. Ela é a única e principal mensagem que se pode deixar".

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