A RELIGIÃO E AS QUESTÕES ESPIRITUAIS
O materialismo fez com que o homem abandonasse a religião.
Muitos passaram a ver nela um desagradável fator de limitação;
além de desagradável, desnecessário. A verdade é que as
religiões tradicionais enveredaram por caminhos que nada
tinham a ver com sua essência. Voltando-se para questões de
natureza política e econômica, desviaram-se de sua finalidade,
que é dar o devido suporte para o homem em seus momentos de
aflição; ensiná-lo a relacionar-se com a divindade e,
principalmente, ajudá-lo a disciplinar a sua vontade e controlar
seus instintos. A religião tem, portanto, finalidade pedagógica.
A agonia das religiões deve-se em grande parte ao fato de terem
apresentado um deus humano demais, e uma visão de mundo
incompatível com os avanços e descobertas da ciência. Uma
divindade irascível, ciumenta e vingativa. Foi contra esse deus
pequeno, mesquinho e de forma humana, reflexo de nossas
paixões, que os filósofos do século XIX se rebelaram e
acabaram por destruir. O problema é que não foi colocado nada
em seu lugar e a humanidade, principalmente ocidental, passou a
sentir-se órfã e a agir como tal. Deus é uma necessidade
psicológica dos seres humanos e uma realidade. A religiosidade
é inerente a toda criatura humana. Uma religiosidade que, ao
contrário do que pensam muitos, não é cultural. Precisamos
reaprender a conceber Deus em todos os seus atributos
superiores, tendo-o na figura de um Pai amoroso, justo e bom,
como nos ensinou Jesus. Convém lembrar que ninguém, a não
ser Jesus, trouxe uma visão tão completa e simples acerca do
Criador, na figura do Deus-pai.
Esse Deus-pai estabeleceu regras, leis, que regulam, organizam
e estabilizam o Universo em todos os níveis.
Compreender essas leis é indispensável para que nos ajustemos
a elas e assim possamos diminuir nossos sofrimentos e acelerar
nosso progresso intelecto-moral. Apesar dessa
sugestão, achamos oportuno transcrever um resumo das leis
morais, feito por Carlos Toledo Rizzini, incluído em seu livro O
Homem e sua Felicidade, páginas 99 a 101; obra altamente
recomendável para os interessados em compreender os
processos evolutivos na Terra. Eis o resumo:
Lei de adoração: Consiste na elevação do pensamento a Deus
por intermédio da oração. Basta o culto interior, com
sentimento sincero.
Lei do Trabalho: O trabalho é da lei da natureza. Aperfeiçoa a
inteligência. O limite do trabalho é o limite das forças.
Relevante, no caso, é a educação que incute hábitos saudáveis,
porque a educação é o conjunto de hábitos adquiridos (...)”.
Cabe aqui um ligeiro comentário nosso. Deve-se entender o
trabalho como toda atividade útil e não apenas o trabalho
remunerado. Retomemos o resumo.
Lei de reprodução: Fenômeno natural que, no homem, deve
acompanhar-se de amor.(...). O casamento é um progresso na
sociedade; sem ele, haveria retorno ao nível animal de vida; mas
não é indissolúvel, sendo o divórcio admissível em instâncias
extremas de incompatibilidade de gênio.
Lei de conservação: É natural o desejo de conservação.(...). O
bem-estar é anseio admissível. A carne alimenta a carne. A
mortificação do corpo é inútil e nociva.
Lei de destruição: As coisas são destruídas para ressurgir
depois. Nas criaturas, só o envoltório é objeto de destruição; o
princípio inteligente é indestrutível.
Lei de sociedade: O homem deve viver em sociedade porque
não tem faculdades totalmente desenvolvidas e completa-se em
contato com os outros pela união social.
Lei do progresso: Ao homem cumpre progredir sem cessar e
não pode regredir. Os mais adiantados devem ajudar os outros a
avançar. (...). A civilização é um progresso que se reconhece
pelo desenvolvimento moral.
Lei de igualdade: Todos os homens são iguais perante Deus.
As diferenças de aptidões devem-se ao desigual nível de
evolução, pois uns viveram mais que outros. As desigualdades
sociais constituem obras dos seres humanos. Riqueza e miséria
são provas escolhidas pelos próprios Espíritos antes da
recorporificação. (...). Homens e mulheres detêm direitos iguais
perante Deus.
Lei de liberdade: Não há liberdade absoluta a não ser de
pensamento; ela é relativa ou condicionada, porquanto, uns
precisam dos outros e têm de respeitar os direitos alheios.
Tendo liberdade de pensar, têm também de agir, donde o livre
arbítrio.
Lei de justiça, amor e caridade: O sentimento de justiça é
natural. Justiça é o respeito aos direitos de cada ente humano. É
correto o direito de posse desde que não seja só para si e sua
satisfação. A propriedade legítima é a que foi adquirida sem
prejuízo para terceiros, como produto do trabalho”.
Apesar de termos apresentado ao leitor apenas as partes
essenciais do resumo, é possível perceber a realidade do que
dissemos antes. O conhecimento das leis morais possibilita um
melhor uso do livre arbítrio, reduzindo a margem de erro nos
processos decisórios. Somando-se a isso o conselho de Sócrates
: “conhece-te a ti mesmo”, teremos o meio adequado de
adiantamento nesta vida.
A influência dos meios de comunicação sobre os jovens tem
sido, na maioria das vezes, negativa. Apresenta-se o viver como
um processo de consumir. Tudo aquilo que não tenha um
sentido prático ou que implica em limitações, autocontrole,
normalmente é apresentado como fora de moda. Nesse
contexto, a religião é vista como um fator inibidor, castrador,
alienante ou que deixa a pessoa exposta ao ridículo. Assumir a
sua essência religiosa implica opor-se à direção geral das coisas.
É inegável que as religiões tradicionais, tornadas instituições
político-religiosas ou complexos econômicos, que vivem da
religião e não pela religião, estejam em baixa no conceito
popular. Mas, repetimos, é preciso distinguir religião de
religiosidade. Esta, não é institucionalizada e nem precisa disso.
É uma relação direta com o Criador, sem necessidade de
intermediários ou ritos. A melhor religião é aquela que o torna
melhor e esta, geralmente, é uma concepção original, íntima.
O adolescente que antes de tudo, voltamos a lembrar, é um
Espírito reencarnado, também está sujeito àquilo que no meio
espírita é chamado de perturbações espirituais. É comum
trazermos para a vida atual os reflexos de nossos desatinos de
vidas anteriores, incluindo-se aí eventuais desafetos; pessoas
que se sentem lesadas por algo que lhes fizemos e por isso
assumem a postura de credores nem sempre compreensivos.
Após os primeiros anos de vida na Terra, durante os quais
estamos protegidos pelos pais e amigos, sob uma vestimenta
física nova e com proteção espiritual específica, pode chegar a
época de iniciarmos o período de aprendizado e reparação dos
erros de outrora. Não é incomum que isso passe a acontecer já
na adolescência, junto com as acomodações psicofísicas
próprias da idade. Pode ser muito difícil conviver com todos
esses problemas. O apoio da fé e do conhecimento, ao lado do
amparo moral e espiritual dado por pessoas ou instituições,
geralmente é suficiente para propiciar um entendimento com
eventuais cobradores que permanecem no Mundo Espiritual.
As religiões podem estar em decadência e fora de moda,
entretanto a religiosidade nunca estará. Se por um lado somos
animais racionais, animais políticos, por outro jamais
deixaremos de ser seres religiosos, pois essa é uma condição
intrínseca, um atributo congênito do ser humano. Nossa atitude
prepotente e de auto-suficiência, relegando esse nosso aspecto a
um segundo plano, tem levado muita gente à loucura e ao
suicídio. Não se entenda que a religiosidade é ou deva ser um
sedativo da consciência. É apenas o reconhecimento de um
traço comum da espécie humana; o reconhecimento de que
trazemos algo que nos liga ao Criador, dentro de nós. Se a
religião está fora de moda, que fiquemos fora de moda
emocional e psiquicamente saudáveis, cuidando para não cair
nos extremos do fanatismo religioso, do pieguismo ou das
pregações moralistas, tão graves quanto os efeitos do
materialismo.
A religiosidade bem compreendida e bem vivida não impede o
jovem de amar e ser amado, de divertir-se e viver plenamente a
vida. Pelo contrário, é fator de equilíbrio que, muitas vezes, o
auxiliará a enxergar com mais clareza situações e pessoas,
avaliando com mais segurança e decidindo com sensatez.
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