José Cardoso freqüentava as sessões espíritas da casa de Albuquerque, desde alguns meses. Persistente, por várias vezes submetera delicadas questões a Benício, o mentor espiritual.
Benício, paciente, atendia sempre, procurando encorajá-lo nas tarefas do bem.
Agora, no entanto, em sucessivas reuniões Cardoso insistia, mais teimoso, com o amigo desencarnado, indagando por tesouros ocultos.
Debalde, os companheiros de sessão e o mentor espiritual tentaram dissuadi-lo do intento, mostrando a impropriedade da idéia que se lhe fizera obcecante.
O coitado queria descobrir ouro, desenterrar ouro. E repetia:
— Em nossa região já foram descobertos diversas arcas antigas e caldeirões recheados, em épocas diferentes. Aqui foi sede de mineração. Há muito ouro escondido... Existem Espíritos vigiando fortunas enormes. Poderíamos fazer muitas obras de caridade.
Certa noite, feriu novamente o assunto, e Benício falou:
— Meu irmão, fique tranqüilo. Sua petição é bem inspirada. Sua intenção é construtiva. Indicaremos caminho para um tesouro no chão.
Uma onda de espanto percorreu a pequenina assembléia.
Companheiros entreolharam-se, assustadiços, receando estivesse ocorrendo qualquer mistificação.
Cardoso esfregou as mãos, contente. Renteou com o médium em transe. E o mentor explicou:
— Cardoso, busque o seu quintal. Além do pátio empedrado, depois da cozinha, você vê todos os dias grande mancha de terra escura, que a tiririca está envolvendo. Cave lá, meu amigo.
E, entre os amigos surpreendidos, Cardoso anotou imediatamente os dados.
No outro dia, pela manhã, começou a cavar. Cavou até ficar exausto. Desapontado, não encontrou nenhum sinal de tesouro oculto.
Na reunião seguinte, interpela o benfeitor sobre o sucedido.
Bondoso, Benício esclarece:
— Você cavou muito bem. O caminho da riqueza está pronto.
E Cardoso interroga, aflito:
— Mas, como?!...
E o benfeitor espiritual:
— Plante na cova rasgada um pé taludo de laranjeira, regue-a, trate-a com amor e, em breve, você terá o tesouro que procura, porque uma laranjeira, Cardoso, é princípio de um laranjal...
(Do livro "Almas em Desfile", Hilário Silva, Francisco C. Xavier e Waldo Vieira)
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