DOCE BILHETE
Meus queridos pais:
Por mais me esforce, não consigo arrancar do lápis a nota de minha alegria em lhes comunicando o reconhecimento e o jubilo que me vão dentro d’alma.
Creio, hoje, que as mais belas expressões da natureza, no mundo, são silenciosas e mudas, porque a palavra talvez lhes desfigure a beleza.
O sol, a fonte, a árvore e a flor não falam. Irradiam a luz, a harmonia, a beleza e o perfume por mensagens intraduzíveis da sua gratidão ao Senhor.
È assim nossa alma, quando a morte nos despoja do corpo denso, revelando-nos as realidades sublimes que nos cercam.
Por esse motivo, não posso falar-lhes do regozijo com que desejaria expressar-me.
A emoção eleva-se, majestosa, do meu coração até o cérebro; mas, quando tento arremessá-la através da escrita humana, desaponta-me a pobreza dos recursos de manifestação intima ao nosso dispor na Terra.
Mamãe, não ignoramos a sua renunciação por nós todos no mundo. Seu devotamento tem sido o manancial cristalino de água pura a banhar-nos a plantação de fé e entendimento. Todos nós nos sentimos imantados à sua ternura que representa, para nós, suave alimento. Nos dias escuros, o seu carinho foi nossa claridade invariável e, nas horas claras da esperança, o seu amor foi sempre o nosso estimulo. Continue sem descanso em sua sementeira de caridade.
Hoje sabemos, com mais segurança e precisão, quanto vale a sua confiança em Deus a beneficio de nosso grupo familiar. E pedimos à sua dedicação jamais confiar-se à incerteza ou a dor, ao desalento ou à indecisão.
Além dos nossos, a sua e a nossa família espiritual crescem constantemente, em busca de nosso concurso fraterno e, desse modo, desejamos sabê-la forte e bem disposta para todas as tarefas que o senhor nos confiou.
Não pense estejamos distantes. Vivemos unidos em espírito, na mesma faixa de serviço e compreensão.
A sua bondade tem sido o instrumento de muitos para muito e, mais que nunca, precisamos de sua coragem e de sua devoção ao bem para o trabalho que nos cabe desenvolver.
Daqui, do mundo novo, a que fui conduzido pelos nossos Maiores, trago-lhes as rosas sem espinhos do nosso afeto, que não morreu.
A morte nos mergulha no sono por algumas horas, para arrebatar-nos, depois, à benção do dia.
Tudo é vida a estender-se sem fim.
Tudo é grandeza divina, a dilatar-se perante os nossos olhos, do grão de areia aos mundos distantes nos confins do Universo.
Não permitamos que a tristeza se avizinhe de nós.
Deus é Sol de amor, que nunca se apaga. E a vida é o coro de alegrias eternas que lhe flui do coração.
Reunindo todos os nossos no mesmo abraço de carinho e de amor, saudade e confiança de todos os dias, sou o filho que lhes pede a benção e que lhes beija as mãos com muita ternura e reconhecimento.
Livro “Relicário de Luz” - Psicografia de Francisco C. Xavier - Autores Diversos
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