O amanhecer da princesas na cachoeira do Jaguar
CAPITULO VI
Salve Deus,
Meu filho jaguar:
As trevas da noite nada significam para o espírito, pois este vê
através do seu resplendor.
Sim meu filho, declaro com toda confiança, que não está longe o
dia em que a ciência irá se colocar diante desta realidade que é a
reencarnação.
Ninguém poderá impedir o progresso. O mundo de hoje está
brincando com fogo. O tempo no espaço não se registra. Não se sabe
porém os caminhos físicos. No centro nervoso da Terra tudo é lento, tudo
vibra para formar a harmonia no centro eterno do homem. Seus rápidos
contatos do etereomagnético é o bem que lhes dá força. O homem mesmo
na sua inconsciência, confirma o seus velho sábios retorna ao seu sol interior.
Sim meu filho, breves dias irão chegar em que o homem
espiritualizado será sentido pelo “PROFANO”, como uma música literária
da mais alta sinfonia.
Sim meu filho, segundo as leis e forças que governam todas as
coisas que Deus criou, o homem na totalidade, sempre procura empregar
sua força mais para impedir o desenvolvimento da Terra. Vê-se assim,
como a se punir pelas suas próprias leis. Leis, sempre para punir outros e
não sabem se desviarem e continuar a punir.
Sim, meu filho, não é fácil abandonar a multidão, fixar-se em si
para buscar a verdade. E quando conseguimos encontra-la é mais difícil
ainda, permanecer com ela. Permanecer com a verdade quando a
encontramos.
Sim meu filho, com este espírito de lealdade vamos encontrar o
nosso povo na Cachoeira do Jaguar.
Foi tudo muito bem aquele primeiro dia. Curas, muitas curas que
se espalharam por tida parte. De longe se viam luzes naquela cachoeira.
Nossos Missionários estavam unidos pelos compromissos Cármicos.
Pai João, amanheceu doente. Seis horas da manhã e o céu não
clareava, fazendo os pensamentos se encontrarem. Eufrásio entoava um
“bendito” da igreja católica. Jurema juntou a roupa e desceu com uma
enorme trouxa para a fonte e com ela: Janaina, Jandaia e Janára. Alguns
Nagôs já voltavam das calçadas e outros seguiam para as roças. As Sinhás
preparavam a feijoada e outras ainda, reativavam o fogo da célebre fogueira.
Pai João sentia a tristeza daquela gente e em sua mente começou a
voltar. Foi quando Pai Zé Pedro chegou fazendo algumas premonições.
Sim! Pai Zé Pedro provia alguma dor devido também ao procedimento
daquela gente.
Pai Zé Pedro estava triste porque Pai João já havia contato uma
certa comunicação sua Vô Agripino, que segundo os fenômenos habituai,
a desarmonia que há horas estava se dando no grupo, era forçada pelas
vibrações dos familiares de Janaina. Eles acabariam descobrindo o seu
paradeiro. Evidente, seria uma guerra. Perder Janaina seria um terrível
descontrole para Jurema. Seus pensamentos não chegaram a se
conscientizarem.
Da entrada da aldeia três cavaleiros gritavam: - Negros! Queremos
paz, porém, nos entreguem a Sinhazinha Janaina, porque o senhor seu pai
pede a cabeça de todos vocês que roubaram sua filha.
- Ela não se encontra aqui (disse decidida Jurema).
Janaina, que estava de cócoras, saiu correndo e entrou na cabana
de Eufrásio, que tinha um cravinote na sua cabeceira para se defender de
bichos (onças, lobos,etc.). vendo Janaina tremendo de medo, segurou o
cravinote e ficou ali a espreita do que desse e viesse.
Ah!foi horrível! Os homens desceram dos cavalos e foram direto á
cabana de Eufrásio. Este fazendo um esforço acima de suas condições
físicas, vendo o homem quase pegando Janaina, segurou a arma e atirou.
Dois ficaram caídos e o outro foi embora pela mata a dentro.
Pai João mandou que desarreassem os cavalos e os juntasse á tropa.
Todos correram para a cabana de Eufrásio que só sabia dizer: - Oh!
Pai João, pelo amor de Deus, jamais pude pensar em tão desesperado
gesto. Sim, Pai Zé Pedro! (Eufrásio continuava a falar) eu não podia deixar
que eles pusessem a mão nesta criaturinha...
Nisto um urro. Reviraram o homem que estava de bruço com a
boca no chão, ele ainda esta vivo, porém, o outro estava morto.foi horrível.
Ninguém sabia como proceder. Mas, a verdade não se pode esconder:
estava um homem morto, e o outro ninguém sabia o seu estado de saúde.
Somente quando o dia clareou é que foram dar conta da tragédia.
Eufrásio já estava só novamente.
Um grande grito se fez ouvir, era Eufrásio; estava sentado na cama.
- Sim! Pai João, Deus se compadeceu de mim, estou sentado. Oh!
Pai Zé Pedro. Todos viraram-se para Eufrásio, ficando a dor da tragédia
mais amena.
Maria Congá não parava, enquanto todos sofriam em seu pranto
emocional, ela junto á Vovó Sabina e também alguns Nagôs, já haviam cuidado
do morto e do ferido, e até já sabiam que o morto se chamava Crésio e o
doente Amâncio e que inclusive, estavam por conta própria, ninguém os
havia mandando ali. Eram os velhos reajustes da noite fatal na Senzala.
- Oh! Meu Deus! (gritavam todos) Eufrásio vai andar... entre
lágrimas, gritos e emoções, Eufrásio dava alguns passos pelas mãos de
muitas pessoas eufóricas que chamavam aquele fenômeno de milagre.
- Pai Zé Pedro estava em conflito e foi atrás de Pai João.
Como pode? Matou e ficou curado! Como pode!? João, um
fenômeno deste!?
- Cala-te, Zé Pedro! Deixe de fazer julgamento. Estes três homens
não eram mandados do pai de Janaina, e sim estavam com má intenção na
pobrezinha desta viagem. Olha Zé Pedro, já estamos aqui a mais de cinco
anos! Não está lembrando que o sinhozinho Erics, vendeu tudo que tinha
e foi embora pensando que sua filha havia morrido afogada? Houve até
uma lenda que Janaina aparecia cantando por cima das águas nas noites
de lua cheia? De um ano pra cá, porém, alguém começou a desconfiar Zé
Pedro! Nas coisas de Deus! Estamos em maremoto, porém, para um nada.
É confuso tudo isto, certo?
- Oh! João, graças a Deus! Não sabes bem que me fizeste.
Pai João mandou um recado para o Sinhozinho de Pai Zé Pedro e
este arrumou toda a situação ilegal, inclusive junto ao pequeno arraial de
abóboras.
Eufrásio realmente ficou bom. Então tudo virou. Eufrásio queria
procurar a família, os seus e, tão impaciente estava que já se aborrecia por
qualquer coisa e por fim se apaixonou pela meiga Iracema. Então, em tudo
colocava a amargura. Não parecia mais aquele Eufrásio cheio de cuidados.
Certa noite, a lua estava cheia, ninguém se preocupava com a
fogueira. Pai Zé Pedro e Pai João estavam fora, mais para longe da aldeia e
começaram a fazer as reparações.
- Eufrásio (comentavam), como uma criatura podia se modificar
em tantos aspectos, em tão vil procedimento?
- É possível João, alguém regredir tão depressa?
- Sim, Zé Pedro, naquela noite trágica, muita experiência Deus
nos deu á luz do saber. E eis o que sei dos meus contatos com Vô Agripino:
- Eufrásio foi somente um instrumento de nossa iludisse com o seu
comportamento e nem tão pouco com a sua evolução.
- Oh! Meu Deus, começo a compreender o que estamos passando.
Nisto chega Eufrásio.
- Pai João, vou-me embora, não estou suportando mais esta vida!
vou sair, vou procurar emprego onde chegar. Darei noticias e jamais irei me
esquecer de todos daqui, e muito menos de vocês dois.
Olhando, Pai Zé Pedro, que espantado não dissera uma só palavra,
perguntou: - Quando desejas partir?
Roteiro do Pequeno Pajé, Vale do Amanhecer, Junho 2005 | 48 |
- Agora (respondeu Eufrásio) e sem muitas despedidas. E foi
embora, montando na mula do finado.
Pai João, Pai Zé Pedro e alguns Nagôs que já haviam se juntando
ali, estavam perplexos. Ninguém, ninguém deu uma só palavra. Subiram
até a aldeia sem sentaram junto a fogueira. Jurema virando-se para Zé
Pedro, disse:
- Tenho pena de vosmecês, e assim dizendo foi incorporando.
- Salve Deus! (era Vô Agripino) meus filhos! Eufrásio foi embora,
cumpriu seu tempo como vocês, não se preocupem que ele não irá muito
longe. Fez grandes dívidas nestes arredores. Pagou sua divida com Janaína
e vai se encontrara com sua família, aí nas Abóboras. E vocês João e Zé
Pedro, se preparem que virá uma ordem para vocês partirem daqui.
- Nas Abóboras? Sua família ai tão pertinho? (perguntou Pai João)
- Sim! Porém ele saiu daqui sem saber (continuou Vô Agripino)
sim! Vocês vão partir daqui, partir para bem longe. Jurema, Janaina, Iracema,
Jandaia, Juremá, Janara, Iramar, Jazaíra e Jaiza precisam se casar. Esta
aldeia já não tem mais energia para vocês.
- Sim! Energia transcendental, herança que se encaminha na Lei
do Auxilio.
Pai Zé Pedro e alguns Nagôs estavam ainda decepcionados, mal
ouviam o que o Vô dizia.
Terminou a Sessão e todos tristes foram dormir.
Sim, nesta época já viviam ali naquela aldeia 108 personagens. Era
uma família que com a saída de Eufrásio, ficou bem mais unidas. Só Deus
agora daria o destino daquela gente.
Em volta da fogueira todos “muchos”; o coração dilacerado pela
desilusão. Não fiquem assim compungidos pela falta de Eufrásio.
Alguns comentaram – Eufrásio era tão bom, nos dava tantos
conselhos, nos orientava em tudo...
Pai João começou a pensar: Quando o homem se esquece das
faltas do outro é por que está se evoluindo. Ali naquele caso, todos só
lembravam de Eufrásio na sua boa fase. Sim, Iracema, a crioulinha mais
indefesa, e a quem mais fez sofrer...
- Zé Pedro (disse Pai João) estes são realmente os velhos reis e
imperadores.
- Por que João, afirmas com tanta euforia?
- Zé Pedro, o homem que viveu em encarnação superior, digo, de
procedência refinada, não perde a confiança em si mesmo. Sempre estão a
lhe passar o espírito de justiça e não se envolvem com mesquinharias.
Somos 108, sabe?
- Sim, foram todos Reis e Rainhas e todos ainda viverão muito
tempo conosco.
- Deveras (disse Pai Zé Pedro) – eles só se lembram de Eufrásio,
de Eufrásio, em suas boas ações e de seu marítimo na cama.
Continuavam perto da fogueira. Jurema fazia previsões. Chegando
a vez de Iracema ela disse:
- Iracema, você voltará para ser a esposa de Petruceo. Sim, seguirá
para muito longe. Iracema e Iramar atravessarão o espaço para receber a
missão e depois voltarão esposas do mesmo Imperador.
- Eu? (espantou-se Iracema), esposa do Imperador!?
. - Sim! (continuou Jurema) cujo Imperador será Eufrásio, que neste
instante já se prepara para partir no rumo de sua missão...
Deveras, foi horrível aquela noite. Frustamento, sonhos pesados,
porém ninguém ousava dizer nada, até que Pai João quebrou o silencio.
- Sim! (disse Jurema) uma morrerá e Iramar se casará por ultimo
e, depois todos nós partiremos de lá para outro lugar aqui perto...
A vida continuava. Logo se acostumaram com a saída de Eufrásio.
Reinava agora um suspense. Sempre sustos, reparações doutrinárias, uma
harmonia quase de medo. Certo dia Pai João se juntou na fogueira e começou
a falar:
- Vejam meus filhos, como a lei segura o homem. Vê-se assim,
como o homem pode ser punido pela próprias leis que estabelece, sem se
desviar deles. São as leis feitas pelos homens, que punem. Os poderes
superiores podem proteger o homem da forças negativas que causam
doenças e sofrimento, porém, o pedido de proteção, segurança contida de
paz, harmonia do nosso todos, isto é possível somente na Lei do Auxilio.
Fazendo a caridade é que abatemos na lei do nosso carma. O sofrimento
de hoje é a luz do amanhã. Individualizamos a vida e no entanto, somos
guiados por Deus. Há muito séculos o homem tentou criar e fez a força
cega em si mesma, dirigida pelo Chefe das Almas...
Pai Zé Pedro ouvia atento as palavras de Pai João, e remoia em seu
canto a falta, a transformação de Eufrásio.
Em dado momento perguntou Pai Zé Pedro:
- João, o que é Deus? Não é dado ao homem conhecer Deus, que
si mesmo deve compreender? Sabemos que um homem está com Deus
pelo seu procedimento. Por que regride o homem? Eufrásio estava em
Deus, como pode cair tão de repente?
- Sim Zé Pedro, cuidado com a tua forma de pensar, vançê é um
nego velho pro chicote e não apara julgar com tanta convicção.
Os dois começaram a rir e João disse com amor:
- Sim Zé Pedro, ouça bem o que diz Vô Agripino: Deus é
absolutamente fé, é absolutamente razão; e ser a razão, é ser a ciência,
Eufrásio não estava em Deus, Deus tentava penetrar apenas em seu coração,
como tocou ao vosso naquela noite.
- Como!? (pergunta Zé Pedro).
- Assumido com Eufrásio os seus desatinos! Afirmou Pai João.
- Então tudo perdido? (indagou Zé Pedro).
- Não Zé Pedro, nada se perdeu, muito pelo contrário, Eufrásio
saiu para cumprir seu destino. Deus não lhe daria o perdão de suas faltas
por aquele curto tempo em que esteve paralítico aqui na cabana. Espancou
muitos homens, foi o pivô da noite trágica. Quantas mortes em seu nome?
Tudo o que aconteceu foi a bem do seu espírito, não se esqueça do que
disse o Caboclo Pena Branca: Breve muito breve, iremos nos encontrar,
Salve Deus!
- João, na verdade o homem não tem capacidade de julgar o
outro.
Os dois começaram a sorrir, achando graça daquelas coisas que
falaram e que tanto lhes fizera bem. Tudo vinha de Vô Agripino a Pai João.
Felizes, felizes estavam agora. Recordavam de sua vida passada, o
porquê daquela escravidão.
A felicidade porém durou pouco. Como por encanto um temporal,
como um furacão, ameaçava aquela aldeia – o mar crescia, as árvores
chegavam suas copas no chão. Pai Zé Pedro e Pai João juntavam a todos e
em súplicas olhavam o céu. As palavras de Vô Agripino, eram agora o leme
daquele povo: “CORAGEM! FIRMEZA! A FÉ, O AMOR; SÓ DEUS”...
Quando a voz do índio Estrangeiro, como uma melodia de paz se
fez ouvir: É A HORA DE POMPÈIA! Foi a voz direta.
Todos ouviam e viam seus olhos verdes incomparáveis, iluminando
naquela escuridão. Logo todos estavam juntos.
Oh! Meu Deus! Em que plano? Em que dimensão? Foram todos
ou ficou alguém, alguns daqueles pobres missionários!?
Meu filho Jaguar: nós veremos na próxima semana um outro
capítulo, porque Rafael, Jorge. Vildinha, Soares e Izaura precisam de mim,
e eu sua Mãe em Cristo, vou atende-los.
Sua Mãe em Cristo
Vale do Amanhecer-DF. 16 de maio de 1980