“No mundo missionário dos espíritos há sempre uma luz
que predomina, mas há, também, sempre um missionário que refreia os seus dotes
de bom cristão e vai penetrando ele mesmo, e, em vez de puxar a sua missão para
fora, fica a se promover como aquele que tem as suas superstições e vive a
acender velas atrás da porta...
E, quando parte a sua nave, porque a sua história
terminou, ele chega do outro lado e encontra um mundo dinâmico, fica a se
envergonhar atrás de suas roupinhas velhas trazidas da Terra.
Sim, meu filho, a vida é igual às vidas. Temos muito o
que fazer dentro da nossa individualidade. Por isso, nos encontramos, todos os
dias, com ela. Formamos os nosso sonhos e nos atiramos nos grandes painéis que
formam o calendário da vida na Terra. Sim, na Terra, porque a Terra só ouve os
nossos lamentos quando abrirmos os nossos plexos.
É por isso que eu os vejo tão grandes e acredito em
vocês, meus filhos jaguares, e nas coisas que vocês têm para oferecer, e porque
os ensinei a transmitir o suficiente em suas jornadas. Tenho que ensinar-lhes
mais coisas e, muitas vezes, penso como o velho Serrano.
O velho Serrano tinha o seu castelo na subida da serra
e emitia as coisas que lhe vinham e que ouvia do céu. Contam que, depois de
ensinar com esmero um grupo de jovens e fazê-lo missionários cristãos,
explicou-lhes como “limpar” seus caminhos e como devia caminhar um missionário
cristão...
O fato é que, chegando o dia da partida daquele grupo,
um missionário perguntou-lhe:
- Mestre, o que devemos fazer de melhor, quando sairmos
daqui? Usar os dons da sabedoria, da ciência, da fé? O dom de curar enfermos,
as operações maravilhosas nos castelos e palácios? Discernir um espírito...
Qual a maior virtude?
- A maior virtude - respondeu-lhe o Mestre - é a
CARIDADE sofredora, a benigna caridade, aquela caridade que o missionário faz
sem leviandade, sem sublimação, até pelo contrário, às vezes, se esquece até de
Deus para servir ao seu semelhante. Essas são as pedras brilhantes que vão
enriquecendo o nosso pobre tesouro, em nossa Legião: a caridade sofredora!
Terminadas suas explicações, Mestre Serrano, batendo
nas costas de cada um, soluçando, despediu-se. Todos fizeram o mesmo com seu
Mestre, e foram cumprir com sua missão.
Desceram prontos e, com eles, um só pensamento: “O
SENHOR É O MEU ROCHEDO, O MEU LUGAR FORTE, A MINHA FORTALEZA EM QUE CONFIO, O
MEU ESCUDO, A MINHA SALVAÇÃO; EM DEUS PAI TODO PODEROSO ENCONTRAREI O MEU
REFÚGIO!”
Enquanto andavam, um tagarelava:
- È, Mestre Serrano nos disse que, quando adquiríssemos
a prática, seria tempo de afiarmos nossas ferramentas. Estamos afiados, porque
não fazemos mais aquelas perguntas insignificantes, viu? Todo aquele acervo
científico que adquirimos, toda luz do nosso mestre, resultou em poucas
palavras: A virtude está na caridade, no auxílio da caridade sofredora!
Riram! Nisso, começou uma polémica científica, em que
se equiparavam ao Mestre. Viram o quanto eram maravilhosos os ensinamentos
daquele Mestre. Ficaram tão empolgados que quase não se aperceberam de uma mulher
chorando, sentada na estrada, tendo a sua ferida sangrando.
Se apavoraram com aquele sangue e, de imediato,
ergueram as mãos para o céu, pediram a Deus a força do Prana, e a mulher ficou
curada.
Meu filho jaguar, não devemos pesar os nossos dotes, e
não vamos dar explicações uns para os outros daquilo que fizemos ou adquirimos.
Cada um procure saber o que adquiriu, consigo mesmo.
Meu filho, esta é a nossa primeira aula e vou procurar
deixar em cada uma, uma passagem escrita.
Cuidado, filho! Lembro-me de uma vez que, ali nas
imediações do IAPI, curei uma mulher que, também, sangrava muito e, ao chegar
em casa, eu falava para uma porção de motoristas sobre o que fizera, quando Pai
João de Enoque chegou ao meu ouvido e alertou:
- Fia, cuidado! Estás conversando muito... Próxima de
você tem outra mulher com um problema semelhante e, talvez, você não possa
curar... Essa não é a sua especialidade. Sua especialidade ainda é a Doutrina,
e não lhe foi entregue ainda um Mestre!
Isso aconteceu em 1959.” (Tia Neiva, 31.7.84)